domingo, 7 de outubro de 2012

Maçã e sangue


Porque eu acordo de madrugada sentindo  seu calor, às vezes em outros corpos, em novos lençóis.
Em pele;
Porque eu acordo, amor!
Latente vontade de você virando soluço... Fazendo amor com a lua.
Ela me engoliu numa noite dessas.
Foi uma lua de agosto, você sabe que em agosto meu corpo vira estrela e quer brilhar toda hora.
Foi nele que eu me perdi numa grande aventura de pernas e força.
Elásticos abraços, círculos de mantras em agonia iluminavam meus olhos febris.
Anjos desceram para brindar meus sorrisos ébrios, ganhei colares de pedras raras.
Desci uma montanha de desejos satisfeitos, atravessei um vale de ínguas cruas e bebi o sol junto a uma deusa nua.
Um deus erótico brindou à nudez e me sequestrou durante horas.
Desci do sonho, rasguei as senhas, não aceitei as esperas.
Engoli os impulsos, Expulsei demônios.
Deixei meu corpo quieto e você chegou com um copo de sangue e duas maçãs verdes,
Quero entender seu vermelho me tingindo a alma, já não morreremos de fome.
Até o entendimento das dissonâncias em ternura, beberemos sua cor para aliviar nosso cansaço, o inferno pode ser servido em taças de cristal, amor.

terça-feira, 11 de setembro de 2012


Eu comprei um espelho com moldura envelhecida, ele combina tanto com as roupas que eu sonho paro seu corpo que eu ainda não conheço, ontem eu pintei meu cabelo de um tom mais escuro, também cortei um pouco, será que você prefere longos ou curtos? Fiz um bolo de fubá e arrumei a cama. O vento varreu meu quintal, senti que levou velhos fantasmas, fiz uma festa de perfumes e cores. A pia está suja de novo, reaprendi a conviver com o vão da sala.  Comprei papel de carta, mas eu não sei seu endereço, você gosta de e-mail? Ou posso escrever cartas?
Eu decorei um poema do Drummond, aprendi a bordar, porque você de certo vai querer que eu lhe faça um suéter cinza, ou sei lá, alguma coisa.
Eu vou gostar de sua voz, tomara que seja rouca, como voz de fumantes quando bebem vodca com gelo, talvez você goste de sol nascendo em padarias da cidade, ou de dormir quando o mundo acorda .Que você tenha silêncio.
Vou levar você aos lugares que eu gosto de ver, há lugares estratégicos para ver as pessoas, tomara que você goste de pessoas, porque eu amo. Os estranhos que cruzam minha rota, que pisam no meu pé. Eu amo querendo matá-los, beijá-los, matá-los, porque eu os vejo. Você precisa ter um coração: sangrando, morrendo, azulando, gritando. Há também de ter pulso, esse antes no sangue que no verbo, o discurso de arabesco pode mentir sua alma limpa. Sua alma? Nua alma. Eu quero ter seus poros minando alma, pingando alma, cavando carne com unha e adaga. Sua força será outra, ela vai explodir diante de meu olhar amarelo e terno.  
Talvez você tenha pressa, tomara que não, pois eu não nego minha preguiça para lhe dizer, lhe adivinhar, porque meu mundo não precisa de palavras, ele precisa de tempo e espaço. Nosso silencio vai explicar se o futuro dura essa madrugada. Dura.

domingo, 19 de agosto de 2012

A festa do Santo Forte


Uma mulher cercada de borboletas fazia bolas de sabão. O calor e o som dos trompetes amoleciam seu corpo que dançava nas mãos dos foliões. Ela usava faixa verde nos cabelos, os olhos carregados de rímel preto e o sorriso de quem viu uma deusa nua. Os lábios molhados na lata de cerveja suada. Ela parecia beber a lua, passos cambaleantes, braços longos, soltos, negros, ela roubou as estrelas e prendeu minha boca numa curva do seu corpo.
Quatro passos de samba. Caminhávamos entre carros, entre feridos, corpos abandonados na República, meninas vendendo sexo no Arouche, homens gozando a escuridão dos terrenos baldios. Bares, sinucas, cigarros, lixo na rua sem saída.
Longos beijos de vodca e cerveja e a luz da lua aos poucos fazia dela uma outra cor, um brilho de fogo, qualquer cor que queimasse minha pele e me fizesse perder o prumo, era assim: cor, maciez e calma. O som, devagar, perdia-se nas ruas cheias de gente, de promessas, de ritmos. Sua voz era canto ou grito, imperava sem verbos nos meus poros. O susto na noite imprevista, depois dos papéis, das estações, entre um metrô e outro: o susto: sustento do lúdico. A calma entre suas pulseiras de santo, seu cigarro, a fumaça no meu cabelo. O gosto da sua língua. Sua casa: varanda com suas flores, tapete dos contos indianos, luz apagada, almofadas de cores escuras. A banda seguiu de volta à Praça Roosevelt.
Eu segui seus sinais!
Místico e simples.

domingo, 12 de agosto de 2012


Hoje eu lembrei de você. Deu uma saudade de suas mãos. Eu sorri lembrando de nossas brigas, éramos tão diferentes em gênio, em juras. A vida está sempre a surpreender: um dia acordamos e ao lado há o vazio, morremos durante meses, anos até. Filme francês no sábado, domingo, segunda, músicas de Chico Buarque, jazz e bar, bar e jazz. Mas deus ou diabo faz aparecer um anjo, na fila da padaria, usando saia amarela, chinelos de hippies e segurando um livro do Saramago, de repente o anjo sonolento deixa o livro cair, eu pego e deixo minha gramática cair, meus verbos todos no chão. Eu estava indo trabalhar, ela indo dormir, era a cara de sono mais bonita do mundo. Combinamos de nos ver pra falar de feiras hippies, saias e Saramago. Foi quando lembrei de você, foi a primeira vez que eu lembrei de você  sem  tristeza nos olhos. Eu pedi um chá mate gelado pra comemorar com seu gosto a liberdade de não te ter como espinho.
Viver é um susto, amores de arame farpado, nervos de aço, corpo de sereno de bar, e de repente: anjo. Ela voltou à padaria, conversamos sobre chorinho, Nelson Cavaquinho, Noel Rosa, ela disse que dorme ouvindo Bach, expulsa seus demônios no samba, está tecendo um cachecol verde pra mim. Eu, meio triste e melancólica nos últimos meses, hoje sorri, senti saudade de suas mãos, senti, você está eternamente guardada em mim, mas sorri ao novo amor. Comprei cactos pra ela, vai que mais alguém goste de cactos, eu não sei, é tudo novo, é tão lindo descobrir, estou besta de novo. Fiz uns poemas com aliterações em “l”, comprei perfumes novos. Reli alguns contos do Rubem Braga.
Ela tem cheiro de incenso, gosto de canela e disse que eu estou lendo demais, que preciso de mantras pela manhã, eu deixei as teorias linguísticas de lado e leio sobre energias espirituais, já a apresentei a Ana Cristina César, ela gostou, mas prefere as minhas poesias, todas e únicas pra ela.
Eu vou comprar alianças de coco!
Eu vou morar no litoral.

sexta-feira, 29 de junho de 2012


A representação das vontades: aqui.

           Há tanta gente por aí. Uma menina cresce acreditando  que as nuvens são mágicas, até, na escola, barrarem a imaginação, como se a linguagem não fosse arte. A linguagem é amor: as imagens, as mãos, os livros evitam mortos de gravata, de vestido. Renascer pressupõe um rasgo, uma seringa direto na ferida no peito. Se eu morrer agora quando do amor eu dei? Estou cheia de amor, poderia criar 5 filhos, casar , ter amantes e talvez não tivesse tanto amor, se minhas mãos soubessem esculpir uma pedra,transformar  uma madeira em símbolo, em centro. As palavras não são justas e minhas mãos confundem as pessoas queridas. Correnteza  em olhar, construo uma casa e faço amor com meus sonhos. O  ponto de equilíbrio é a graça da luz, da  vida entre um terminal de ônibus e uma fila de gente, uns pensamentos soltos, pessoas vão aos poucos sendo pessoas. Qual o melhor olhar para saber delas? Construtores de rotina, cansaço de roupas que se repetem, ou ainda, homens e mulheres cheios de força e luz nadando contra a opressão de suas próprias escolhas, do vínculo com a instituição, do verbo rasgado da igreja, da família vestindo os que insistem em ser nus, a lágrima da última despedida quase amputando os braços. Mas os braços, os dentes, as veias com sangue espesso, a vida insiste cheia de flor a cada pessoa bonita que sorrir, a cada afeto gratuito, a lua tira sarro  de qualquer tragédia, ela acelera meu ritmo , me põe em transe.
      Qual o gosto do seu sorriso largo? Quando foi mesmo que vi?
            Eu não tenho medo de morrer, mas a vida às vezes me assusta, vejo gente presa em cruz, em grade, em preço. Dá medo de saber desse itinerário, meus nervos pulam.
     A ideia reguladora de tantos é uma  tenda de opressão e medo, não quero TER, TER. O que  é mesmo TER alguém? Se eu só sentisse seu corpo, seu pulso, gosto e resposta a minha vontade, uma comunhão limpa, sem medir forças, sem vaidades? Se eu derramasse amor nas suas estrelas e flor no seu perfume?  Acalmasse essas interrogações vãs que eu engulo com café com leite e pão com manteiga. Não lhe peço nem verbo, nem espera, peço comunhão em sim, em  mãos em comum carinho.
        Eu não sei dizer disso,  tenho umas coisas se derramando em perfume e cores que gostaria de derramar no seu dia, antes que seu gosto se apague em mim. Logo a gente morre, é tão lindo morrer, tão preciso viver, tão precioso, tão flor, pão e água.
Modos subjuntivos.

quarta-feira, 27 de junho de 2012


           Eu não saberia usar das mentiras disponíveis para explicar meus conflitos, não sei jogar, não tenho grandes projetos, ando por aí, paro e desconfio do espelho, ultimamente desconfio muito do tempo, o espaço realiza poesias que dormem, comem, vertem sangue.
           O caos dança no horizonte e me pede corpo, o oxigênio é o conflito, uma guerra que não cessa, os sons fazem pares com signos tortos. Uma ideia, um suspiro, braços em comum afeto.Alegria leve, limpa, alegria de som, em sol maior. Tão bonito o quanto se ver.
          O tempo, os ponteiros mentem. A lágrima, a lâmina. Os cortes se fizeram versos. O tempo é o corpo  em angústia e alegria.Sentidos e braços abertos. Ser, livremente ser, é um tesão. 

segunda-feira, 18 de junho de 2012


                                                         NUVEM

  A mulher entra no seu apartamento com um abismo pulsando nas entranhas, com uma fome de domingo e com um cansaço já seu. Da janela o horizonte se anuncia com a vertical e funda ideia de não mais ser, o anúncio de um fim não a alegra: satisfaz, respira fundo e pede  qualquer coisa, pela consciência que o corpo precisa, não pela vontade de comer, faz um tempo que não sente fome, olha pro anel que exibe na mão direita e já não significa o sol daqueles dias  passados.
           O quarto exibe o que foi sua escolha, alguns livros não lidos, outros sujos de tanta releitura, na sala a cortina grita o vento que ela não sente, a mulher não vive no apartamento, vive  em um canto de um vazio, amarelo e triste, embora as paredes, os móveis e seu tapete, de cor tão sua, denunciem sua alma.
         Na cozinha, um pano de prato amassado, umas xícaras sujas, uma manteiga aberta e pão duro não conversam com sua vida de fora, tão sociável e rica, tão restaurantes, papos acadêmicos no final da tarde, discursos atravessados que ela reúne para um dia discordar , porque o que enxerga é feio e não condiz com o discurso.
       Encerra o domingo na janela, namorando uma nuvem, matando a sede de silêncio, exibindo a solidão para o céu. Na semana, atravessa faróis amarelos, corta fios, corta assuntos, costura bandeiras  já sem símbolos: “operária em construção”.
         Atende aos prazos, ao prazer, ao passo rápido da cidade, ao gosto da rotina, à escolha das cores das  meias.
         É domingo e a vida se repete: a liga, a língua e a linguagem vão aos poucos transformando-se  em promessa, em dívida interna, aconchego impossível de um afeto vão.
         Suco, pão, queijo, faca e fruta e a distância da cruz:  uma flor vermelha na cozinha anuncia um novo perfume, talvez uma nuvem que dure mais, que dure até a tarde cair. Que refresque o peito morno, as cinzas, o  pó, a pouca fé numa vida longa, porque o que é vida?  Diga quem souber.  

terça-feira, 12 de junho de 2012

        Uns anseios , como se de repente eu fosse explodir ou flutuar, chorar no meio de uma comédia, levar um tiro enquanto rio, matar alguém enquanto canto.
        Durmo menos nos últimos meses, bebo mais café , falo menos nas últimas semanas. Abandonei as coisas que são muito minhas, cerco as pessoas anônimas com meu olhar, cubro de dúvidas quem me encara, lanço meu corpo cansado num colo frio e distante e sinto medo de mim tanto quanto da outra.
       Sem crédito para o futuro, meu café vai amargando as datas,  excedendo os prazos.Tenho assustado os que me tem afeto com um certo silêncio nos últimos dias, sigo querendo uma transparência mentirosa, esse discurso já repetido, esses dizeres já sem carne, minha pele  vai ganhando marca, os pés sangram no cansaço e as mãos, atadas, esfriam sem espera. As unhas vão perdendo a graça dos meus esmaltes, os meus batons e perfumes não enfeitam o corpo.Aqui, alguém se perde. num mundo que fiz muro, porque a hipótese, bem sei, pode ser veneno.
Apague as luzes .

                Finalmente você voltou Maria, eu estive tão cansada todos esses dias. Eu amei tanto você, abrindo a porta, os braços, as pernas, para viver. O corpo é possível ainda sem você, mas eu quero dizer o quanto o gosto do seu corpo pode me curar do mal do mundo, sem você dei pra andar tonta, eu saio com o rosto carregado de cores, com as palavras na garganta esperando algum desatar de nós.
            Um passo falso e eu me lanço pra um bar, um barco, um voo, um salto de paraquedas, eu sou uma mulher Maria, eu não posso mentir pra imensidão dos seus olhos, negar que suas mãos me livram do inferno, me santificam a carne, alimentam, me fazem ver, respirar flor, ficar muda de tanta alegria. Quase quatro anos e ninguém sabe e nem pergunta de você. Eu dormi com pessoas incríveis, eu acordei com pessoas horríveis. Eu saí de nossa casa, porque a pia tinha lembrança de como você cozinhava, a geladeira não tinha mais seus temperos e eu sentia ainda o peso da sua mão na minha cintura antes de adormecer.
             Agora você aparece,  me tira a roupa e me ama .Nada aconteceu esses anos? Eu respondo que não, meus olhos são eternamente seus, minhas mãos são cúmplices do seu prazer, da sua rota, eu sou seu continuum , seu sim em  afeto, eu colecionei todos esses anos os  poemas que parecem com você....”enlacemos as mãos”. Eu já me inscrevi no curso de francês, quero te escrever cartas novamente, te acordar com Norah Jones só pra gente continuar na cama, eu vou aprender umas músicas da Madona pra você ficar feliz.  Eu fiz uns desenhos de uma mesa que eu quero fazer pra gente, pra gente jantar, beber e fazer amor. Vou comprar uma mesa de sinuca pra aprender a jogar e espalhar uns livros em cima, eu leio um conto e você faz um arroz, eu gosto do seu arroz.
           Nessa terça fria você invade meu quarto com suas cores escuras e tira a roupa enquanto sorri e eu  fico achando que somos deus. Como você consegue tirar de mim o peso do mundo,  aquecer o frio de mil noites estúpidas sem você? Eu não a interrogo, eu só quero seu corpo, assim como você também só se sabe em mim, porque o tempo é um senhor me explicando o quanto eu te preciso, o tempo é meu amigo, o Rilke é meu amigo, eu lhe fiz poesias Maria, eu quero ficar velha deitando no seu corpo, eu posso até transar outros sentidos, você também, o que é sacro é nosso pão, nosso fermento, nosso amor de noites inteiras santificando nossa carne, nos fazendo flor, mel, leite, sangue, letra, língua. Não há estação que mude, nada que me tira você , porque eu não deixo, te mantenho com sangue, com meus verbos mais densos, minha sintaxe mais natural, minha força sutil e meus olhos, sobretudo meus olhos, são internamente, internamente ( esse ciclo) uma dúvida, uma dívida  diante do mundo, deite comigo  Maria, eu te direi mais uma vez quem sou. Meu corpo também é seu e você sabe tão bem quanto eu. Deixemos o mundo, em paz com a vida, com vida ainda.
         Comungar seu corpo, marcar você na minha pele, jogar as tintas sobre as incertezas do mundo, sair do limbo, ser sexo, ser imensa, santa, saias, vestidos : enfim transbordar,  nossas cores juntas de novo, vamos pegar mochilas com nossos sonhos mais antigos, eu te dou minha mão e meu sim, você já pode me matar, vai ser doce, como um dia  você prometeu.

sexta-feira, 8 de junho de 2012


           Perdoe a minha mão em espera e também esse jeito torto de andar por aí. Não pense que não fiz janta todos esses dias, os  pratos na pia lhe mostrariam o quanto de espera aguentei.
         Eu parei de fumar e comprei sapatos de cores claras. Guardei seu pijama junto ao meu, caso você não volte, seu cheiro de limão com pasta de dente estará nele. Tudo que você me deu,  agora,  é um exército inimigo. Abro a porta e lá estão prontos pro ataque:  poema de Drummond com seus riscos, anéis esquecidos na minha gaveta...
            Eu finalmente arrumei lugar pro espelho, o vizinho chato mudou daqui, e nunca mais voltou...Eu lhe diria tantas coisas, eu xingaria você.
                 Sente aqui  Maria, me deixe tirar sua blusa devagar, gosto desses botões vermelhos no seu casaco.  Me deixe chegar  perto em silêncio . Deito minha cabeça no seu colo e espero sua voz silenciar minha confusão do dia, essa chuva  deixou seu cabelo molhado, suas mãos frias, os dias de  inverno esfriam você e me acendem, repouse suas mãos na minha cabeça, alcance minha dor, reconheça meu desespero durante uns minutos , eu lhe farei um chá de canela, de maçã. Encontre o pó de café, não faz tanto tempo assim você o guardava lá, perto do açúcar.
            Seus esmaltes escuros e suas mãos ainda queimam meus sonhos, então não olhe muito nos meus olhos Maria, respeite a saudade do meu corpo, só quero lhe fazer um chá e falar sobre os estudos  , os vizinhos novos , você me diz do cinema com  Malu ,da saidinha com o Zé e eu finjo não prestar atenção, a água ferveu Maria.


                                      O medo de dizer da  fundura das coisas.

                 
                  Eu não saberia dizer, onde foi mesmo que eu fiquei com esse olhar perdido, e eu nunca consigo fechar os olhos diante desse fermento todo. Os pares todos vão cerrando os dias de chuva.
                   Sentei sozinha num café e um homem largo e branco me apontou uma interrogação bonita,  que me afligiu e me entristeceu, as pessoas  me entristecem, me lançam palavras vãs...Me interrogam, são bonitas, têm vida, têm histórias, coisas especialmente suas, eu não tenho, eu vou morrendo sem saber dizer. Na faixa de pedestres conto os pares, enquanto o farol  abre, vejo homens ,vejo mulheres,  ontem vi uma mulher feliz, riu sozinha e retocou o batom enquanto o farol não abria. Uma outra mulher atravessava a faixa , segurando a mão da menininha ruiva, a menina estava feliz, a mãe não.
                    Nas ruas os contratos de felicidade vão se desfazendo, as caras de preocupação, de raiva, vão virando sono nos bancos dos ônibus, vão virando atraso, promessas pra semana que vem, aquele café no domingo,  aquele caso das antigas, aquela vontade de repente retomar o gosto de inverno. Eu sumo, normalmente, sem palavra nenhuma, gosto nenhum. Eu perdi alguma coisa, eu ganhei uma confusão, eu vejo as correntes, os contratos, as mentiras com drinques caros, a coação que o tesão pressupõe, o medo de dizer da  fundura das coisas , repouso o olhar no caos e me lanço em desafio para enfrentar a rotina, a mancha no vidro, os pratos na pia, as cartas já amarelas não mentem mais. O dinheiro, as passagens, as roupas, os livros, o espaço, a tinta, o pão, o leite, todos esses são calculados, creditados, pagos, ralos, e a doçura perdeu o rumo, vou ficando feia. Abandonei o olhar num ponto de interrogação eterno.
                 Cada dia um susto, uma nova cor, uma violência, um dia de distância, corpos que não se encontram, copos sempre cheios, poesias  nos perfumes de tantas moças que passam, as palavras-laços enfeitando as noites de música, de  cintos, cinturas, zíper, café puro, energético, eu,  só,  vejo. Sem par. Há uma raiva de certas coisas não ditas, há vontade de força, de corpo, de sangue, de unha, abraço,  cansaço, beijo e sangue, poesia e sexo, as correntes são aço, aço, aço. Um dia serei vítima de um grande afeto sem aço, sem corrente, os corpos se encontrarão, o que  no  fundo é mentira. Pena.

sábado, 2 de junho de 2012

A fila do pão, a buzina na calçada, sua nuca ao abrir os olhos e seu corpo precipitando o dia....
O gosto da eternidade na sua língua, como o primeiro raio antes da chuva.
Seu abraço branco precipitando o fim.
Eu te traí . Eu tive medo do seu gosto.A eternidade é pequena pra eu entender porque sua língua  limpa minhas pequenas alegrias. Minhas ameaças são anônimos e fúteis.
Todas são você e não são você: ?

sexta-feira, 1 de junho de 2012


Uma mulher sobe a rua. Uma mulher arde de ciúme enquanto passa o esmalte vermelho.
Uma mulher entra no bar. Uma mulher compra lingerie.
Ela pede vodca. Ela pede cama.
Elas ardem, sem lingeries, sem ciúmes, ardem.
São mulheres, são lindas!
Uma mulher se pinta. Uma mulher se esquece.
Uma mulher tem relógio.  Uma mulher tem batom.
Ela quer  resposta. Ela quer café.
Elas podem o mundo.
Elas foram longe, onde os sentidos trazem Deus.

segunda-feira, 28 de maio de 2012


               Eu queria tanto matar você...E  depois eu secaria seus lábios sujos de sangue com a crônica do Arthur Távola, aquela que eu lia quando você estava de TPM, que dizia: namorar é “ficar horas olhando o mistério do outro dentro dos olhos”, Maria eu olhei demais, porque você não me solta? Tanta gente para eu transar, eu já fui tão substância, essência de afeto, eu minto, eu quero tanto ficar comendo pão de mel, eu tomaria chá mate gelado por você. Eu deixaria de tomar café, mas mesmo assim você foi  embora.
               Eu  joguei nossas coisas no lixo, joguei mesmo. Você é uma puta, eu te amo, você é uma puta linda, eu fui uma puta. Tão diversas, eu nunca mais vou mentir enquanto bebo, eu nunca mais vou sair sozinha e ficar com medo das moças, e fugindo dos rapazes, Maria nós morremos sem luxo nenhum, como naquele samba que você não conhece , como trezentos e sessenta e cinco dias sem você saber de mim. Eu nunca li Rubem Braga para você , não houve tempo e o  Michel te dava ciúmes , eu achava graça, mas eu lia, eu amei quem eu quis sem você, você me oprimia , eu não sei amar, eu assusto, não sei medir, eu transbordo, eu transbordo Maria. Eu vou transar até o cansaço me fazer te esquecer, eu vou ler tanto até ter cansaço e não sair com ninguém, vou mentir para os meus amigos, vou parir anjos, transar num palco bacante.
               Eu vou te fazer entender que eu me perdi, vou quebrar seus dentes, arrancar suas palavras sujas, quebrar sua mão e cuidar de seus filhos porque você seria uma péssima mãe. Vou usar uma maquiagem pesada, um batom vermelho e aparecer nua na porta da sua casa, invadir sua nuca, puxar seus cabelos e transar com você até você lembrar quem éramos, Eu vou morrer na sua frente, no seu corpo, para você saber o que É o fim.
           Vou deixar o trabalho, os estudos, o giz, a caneta bic azul, vou pro litoral fazer fumaça , vou mentir para as pessoas e dizer que eu quero ir pro interior, vou dá para todo mundo que quiser , eu vou sair de casa, vou trocar as cores, antes eu vou matar você porque eu te amo, ainda que isso me atrapalhe sexualmente , me perturbe psicologicamente, e me faça acordar diariamente. 
Maria?

domingo, 27 de maio de 2012


                                                                      !!!


               Seu cheiro é de amora? Limão? Madeira? Eu esqueci dos lugares que costumávamos ir, de como era mesmo seu semblante, de como era nossa transa, de sua cores preferidas. Eu ando tão responsável ultimamente ( o que não me alega muito), falo pouco ultimamente ( o que me alegra demais). Quis lembrar seu semblante, pois perguntaram de você pra mim.
             Será isso lucidez? Porque a distância das relações ( sexualmente isso é péssimo) me faz enxergar traços impossíveis de serem vistos de perto .Envolvimento com o todo, agora, é uma desconfortável. O prazer do óbvio às vezes traz  um cansaço que nem sei dizer. Mas ainda tenho humor, isso tenho, quanta vida há nas ruas, sei que o recorte, a fotografia, esse meu olhar tem alguma ternura, ainda. No entanto , essa lucidez cega, em noites assim, essas  de lua bonita, eu costumava lembrar sua feição , de um boteco , daqui,de uma rua onde nem me reconheço, eu desconfio de tudo: os   corpos em conflito, o gozo,  a saliva . A minha calma ainda quer um olhar terno, não é uma frescura medieval e platônica. Suponho, com toda minha ignorância às ciências, que o corpo tem outras vontades além da mecânica, essas vontades que nos eternizam.
            À parte seu cheiro e seu semblante, eu bem sei o tanto , o bucado, o punhado de eternidade que você remexeu em minha alma, inconsciente, vida...Mas como é seu semblante?
Eu esqueci...
E agora?
Beber sem memória é esquisito.
              

?



Entre um gole de cerveja e outro, sua língua invadiu minha boca.
Você não estava, amor.
Entre uma palavra e outra, sem querer suas roupas invadiram meu quarto.
Você não estava, amor.
Entre o tesão e o gozo, havia, ainda, outra forma de morrer de fome.
Você não estava, amor.
Entre abrir os olhos e fechar , o dia passa.
Você já esteve?
O Esteves abriu a Tabacaria, eu abri o livro do Pessoa e morri de fome!

quarta-feira, 9 de maio de 2012


                   Os dias mais claros!



              O outono me abraça, esses dias claros, tão cheios de prazer. Meus passos calmos na direção da rotina. Os cafés ,  os olhares cansados  nas padarias, meus livros cheios de rabiscos e sujos de café,  caneta azul no cabelo, lápis com borracha na ponta. Escritos,  rabiscos, datas, músicas, tópicos, final de livro, capítulo denso de história póspensadaantesdita, giz sujando meu jeans , a lousa me pedindo traço, o espaço me pedindo som, eu pedindo calma, com pressa de música  na madrugada, de transbordamento da linguagem em íngua. Cálculos e rótulos tingindo a rotina, tangendo o lirismo do primeiro café, do rabisco de lápis. Sinal, faixa, escada, seta, cinto,  falta olhar, horizonte, através da janela a lua morre,o sol nasce e giz de cera não desenha mais tempo e espaço, laço e cama, sob o código do discurso falta amparo crente para dizer de minha  vontade, tudo é cria, criação, riso largo. Afeto é um transbordamento da vontade em abraço,  corpo entregue ao abraço , o outro, em sua posição de estranho, é hipótese de conflito.
               A vida dança mais colorida, de cachecol,  os cafés são mais fortes no outono e a saudade é um calmante pra esse arrepio desmedido que o outono me traz em todas as manhãs, quase madrugadas, vendo a lua alta e nua. Refaço meus passos e penso na vida como espaço de um eterno gozo, conflito-aflito ,vivo! O viver impera. O impulso é: o devir. A rota: o transbordamento. A hipótese: o conflito. A ponte: o corpo e a sua possibilidade de imensidão.

segunda-feira, 30 de abril de 2012


Maria



              Quando o instante é uma possibilidade de êxtase. Ao seu lado a vida era uma tensão, uma vibração, um peso possível, porque seu olhar ainda queria minha calma em seus movimentos. Maria, eu sou um caos, não obedeça aos meus pedidos, continue impossível, eu sou um caos, tenho mais amor que desejo, mais silêncio que verbo, senti seu perfume num corpo alheio, achei graça da piada que o destino me prega, achei a minha ausência sob as luzes coloridas, minha mão ainda não alcança seu signo.
            Volte, não me queira, não queira acordar comigo, não durma Maria, pegue suas coisas, você não entende minha febre, já não mata minha sede, na geladeira, sua geleia não combina com o resto, separe o amor do sexo, Maria, não seja burra, prefira o sexo, não seja eu, saia, não queira ver o princípio de uma ruína, o mundo é um, a possibilidade está nas pessoas, não me olhe sem me ver, não alimente absurdos a meu respeito, durma com outras pessoas, se saiba, Maria, não me dê notícias de ontem, e devolva minhas chaves, não importune o amor que ainda é seu, me deixe ser um absurdo, em silêncio eterno, hesitante em conflito, não diga palavras que me caibam, suje seu corpo Maria, não finja pureza, a linguagem é fruto da violência, é absurdo dos sentidos, o tesão é a calma, o inferno simbólico é a chama, eu rompi com seus signos ,eu queimei suas esperas, me expulse do seu inferno para sempre, Maria me condene à impossibilidade da vida longe do teu colo, há a possibilidade de vida absurda e vil...Maria transe com a cidade inteira, não diga bobagens, diga imperativos Maria, todos ficam lindos em seus lábios quentes, impere Maria.

domingo, 29 de abril de 2012

Eu sou um lixo.


                        Quero dizer que eu sou um lixo, um lixo não merece um texto, mas escrevo assim mesmo, a internet  também tem lixo, eis aqui um espaço sem corpo, tão difícil ser, tão difícil o  amor, como se dá amor? Eu morreria por essas pessoas que amo, amo, amo, mas como magoam às vezes,  eu não sei amar, não sei,  porque quando penso que sou a hipérbole do afeto, me interpretam com a frieza de uma estátua grega,  distante e imparcial. Eu não entendo o mundo, eu vou me calando, sucumbindo, talvez eu vá morrendo de algum jeito, mas me cortam  algumas palavras , vou chorar algum tempo, e ficar sem verbo, porque são verdades de outros, são facas, eu não posso fingir que não são facas. São sim, facas, me cortam, eu não sei devolver ,não me peça palavras que eu não tenho, querem mentiras que eu não sou, isso me torna vil?...Meu amor não vale nada? Eu preciso dessa merda de rótulo ,de discurso para me respeitarem, eu não sei como não desistir, eu não sei. Eu não vou cobrar,  não quero comunhão de pensamento, é tão agressiva uma cobrança que  repele a natureza do que eu sinto, penso e faço...Porque essa mágoa toda? Eu preciso tanto sumir, quero medir meus  gestos, é injusto, isso me corta, você me cortou, quando o abrigo cai,  sem colo e sem teto , porque ruir assim as relações? Eu sei que sou cheia de defeitos, mas onde eu achava minha fortaleza você chama de covardia,a serenidade que eu cultuo é medo? Estou um lixo, sou a construção de uma ruína, paradoxal? paradoxal  é descobrir que não estou construindo nada, não estou construindo nada,nada,  eu acredito nas pessoas sim, qual o gesto que me traiu? Sou vil, sou , não mereço mesmo crédito...você tem a razão, o que eu sou diante dela ?
                    O que me explica? Eu não quero agredir você, vou escrever , nesse espaço de ninguém, eu não posso seguir esse roteiro, eu estou tentando me encontrar ,mas ninguém ver, estou triste como o cão e ninguém ver, a simulação do medo, eu queria um abrigo que não me machucasse tanto, puta que pariu , eu cansei de ser forte, cansei, ninguém ver o quanto me custa, a pseudocalma é  instrumento de não magoar mais ninguém, esse desentendimento todo dói. Quais as ferramentas necessárias para o entendimento de que eu também quero ser feliz, é difícil olho para o outro quando se está fraco, eu nãoquero magoar ninguém, eu escrevo ,eu estudo, eu estou muito cansada desse mar de mágoa, a “terceira margem do rio”  não existe, existe a rotina, o “ todo mundo correndo atrás” a infelicidade reinando, puta que pariu, eu cansei, cansei  mesmo, eu não consigo , não sei impor para você o que eu acredito, acredito só na diferença e no estranhamento, qual a possibilidade de felicidade nessa violência toda? você me violentou, me sinto vil, menos pelo que você me cobra do que por como você me ver, era amor, eu também quis ajudar, sucumbi, vou morrendo, mas ninguém perguntou, todo mundo quer salvar o mundo, com síndrome de santo, eu sou um lixo, nem reze por mim, me perdi nas intenções, sou mesmo uma merda de filha, de gente, sucumbi mais  e mais e mais.Eu não sei, não quero mais tentar, não quero, quero ficar quieta.

quarta-feira, 25 de abril de 2012


                      Quero tanto você aqui, deslizando no meu corpo devagar, me derretendo sem pressa, sem prazo pra saber meu nome, minha língua descobrindo seus sabores, seus sons, minhas mãos dançando em seu corpo, sobre todos os sons que te enfeitem de amor, de violência, de delicadeza, de laços, lances todos pra você, pra você pra mim, sua língua me trazendo para o dia, para o sol, o céu, o inferno, suas cores queimando meus sentidos, surpresa de você assim  nas primeiras horas da manhã, com corpo morno acordando de prazer ...meu corpo solto sob o mesmo lençol ...perdida na sua nuca,no seu nunca, afago de corpo, me perdendo na sua boca, nos seus becos, nas suas vontades que são todas minhas.   
                   Eterno cio, eterno ciclo de minhas vontades nos seus lábios , sua febre...me dissolver no seu corpo, na sua sede, na minha espera, no tato , na nuca  , na curva macia de seus movimentos, naquele frescor de primeiro suor, gozar todas as hipóteses possíveis, sobre e sob o seu, só o seu corpo, enquanto tesão único eternizado em cada poro de prazer ,de suor , de sal, de língua...orgasmos, orgasmos, orgasmos  de você , repetições ininterruptas das    minha vontades  em língua , você...morrer meu cansaço impossível , meu cansaço impossível, liquidar-me liquidamente, mente líquida... Meu orgasmo, gozarei platonismo em seu  suor...

sábado, 21 de abril de 2012

Encarnação das vontades


              Você talvez goste das  novidades  que preparo para você, estou juntando dinheiro para fazer um curso de marcenaria, você vai achar incoerente, porém logo saberá que eu sou muito incoerente e exagerada. Quero fazer uma estante linda, sem usar verniz , porque eu amo cheiro de madeira, eu vou deixar sempre em cima da estante, um livro de poesia aberto, numa página suja de café, com poemas para cada dia seu, vou ler meio sem jeito, quando você aparecer, tomara que você goste. Quero  aprender um pouco de latim, assim que eu comprar meu dicionário epistemológico, vou dizer pra você a origem de todos os verbos pornográficos, sei do substantivo “pornografia” é grego , e se me lembro, é porné; simplificando: vem de putas( isso ficou cacofônico e consequentemente ambíguo), vou sempre simplificar, nunca farei discursos sobre sentimentos porque me atrapalho toda.
       Mas quero tanto  fazer os meus móveis, e você pode pedir o que quiser , deixo você  usar minha estante , tomara que  você tenha paciência para minhas angústias TPêmicas, porque eu fico com uma saudade de casa, de nadar , de ser irresponsável, mas passa, sempre passa, também fico estranhamente quieta, mas passa, na maioria das vezes estou pensando em você, de forma egoísta, te querendo, como se querer resolvesse alguma coisa, só um traço de coisas óbvias, no mais quero dizer da minha vontade de fugir, pode ser só do meu quarto, quando tenho tanto para ler, eu gosto muito de ler, estou investindo em coisas que não vão me dar dinheiro, mas conheço pessoas incríveis, e é bom tomar café com pessoas assim.Quero muito escutar sua seleção de músicas “corta-pulso”, será que você tem uma?.Eu tenho, gosto das músicas que fizeram antes de eu nascer, e também das que fizeram semana passada e ninguém conhece.
            Você poderia encarnar minhas vontades, então agora, eu  faria café para duas pessoas. Hoje faz uma tarde linda para você existir, eu até arrumei os meus livros e minha cama. Mas enquanto você não aparece deixo meus livros povoarem minha tarde.
         O Pessoa, a Ana Cristina. Um dia teremos tempo, teremos encarnação das vontades, dos discursos, sobretudo do discurso que lhe tenho.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Quase nove anos sem seus olhos querendo que eu chegue mais cedo. Seu olhar é a coisa mais terna que já encontrou o meu . Essa dor do seu olhar me desespera, me desespera. Meu plano de ficar perto não deu certo ainda, quantas lágrimas inesperadas foram separando a gente. Nem com muito esforço teríamos imaginado esse cenário todo. Esses muros de sal afastando a alegria. E hoje qualquer data cristã, que para a senhora representa a alegria (resignação) , é choro, lamento e solidão, e para mim, a exposição de minha impotência diante da violência do que “É”, a afirmação das coisas é sempre maior que a nossa vontade, mas como lhe dizer disso? A senhora que sempre plantou o amor e a bondade aos moldes cristãos, sem nunca questionar nossa falta de tudo,quando sonhar era pecado, porque era impossível ou difícil demais, e quando crescer era um fado, um fardo sem descanso ou mudança. Quando tive o olhar mais maciço , cru, orgânico, eu soube das correntes que o “amor “ prende no pulso, no passo. Essas correntes aqui nos meus tornozelos me cansando o corpo, me tingindo o dia de sangue. É impossível ficar indiferente às suas lágrimas, sua dor. HOJE, ser MÃE é a coisa que mais lhe dói o corpo, a calma, molham seus olhos de sertão...e me deixam triste, triste e impotente!!!

domingo, 1 de abril de 2012

“Desenlacemos as mãos” , você disse. O mundo mostra um ninho de amor em todos os corpos, um jeito de morrer em cada copo, um alívio em cada gole. A felicidade é coisa sem casa, é anômala , nômade, é pedaço de pão, cortina aberta, zíper aberto, pés descalços na cama, mãos calmas e quentes, café com palavras e carinhos, vidros colorindo o quarto, criança vendo a lua...A felicidade já foi seu corpo cheio de tesão, já foi sua raiva, já foi minha força no seu cabelo, já foi sua sombra, minha sobra. O mundo engole nossas vontades e cospe qualquer coisa parecida com alegria. Farsas e farpas por vezes machucam meu peito já forte pelo tempo. O Sereno me levou à descrença dos bares. Recusei. voltei a minha solidão de café, letra e Marisa. O mundo é mais que esse bloco de aço que desfila sem melodia. A substância é a hipótese líquida de ainda EXISTIR gole de vida, saliva de afeto, semente de girassol . O tempo é a possibilidade, é a porta. O tempo É O PARTO. Me parte em possibilidade de CARNE, de sangue, de GENTE dentro de casa, de poesia às 3h da madrugada, sob a lua cúmplice . A VIDA AINDA ANDA, INSISTE NUA, LOUCA E LINDA MEU CARINHO HESITANTE.

domingo, 25 de março de 2012

Os fantasmas invadiram meu domingo, eles são todos bonitos e sorridentes, já somos íntimos porque a visita é frequente, tomaram café comigo. Entre uma xícara e outra eu disse dos meus pesadelos de noite mal dormida, dos cálices que estilhaçaram-se no chão do meu inconsciente. Do meu atraso da hora da partida. O fantasma mais antigo me disse sua de Descartes e teorizou minha pergunta, um outro mais contemporâneo e talvez pragmático disse que o problema era a angústia: possibilidade. O fantasma que sentava na minha poltrona, me cravou uma peixeira no peito, era uma mulher: nua, fria e com lábios vermelhos. Sorria e me matava, eu sabia que ela não diria nada e assim me explicava melhor. Abri a janela, tomei mais uma xícara de café e ordenei que saíssem. Foram todos e me esperam na próxima angústia, a mulher deixou um cheiro de rosas e eu odeio rosas!

quinta-feira, 15 de março de 2012

Sangue, foi sobretudo com muito sangue o pagamento do último amor.

Os dentes de ouro falso também pagaram o último pedágio para sua cama, só foi para sua calma, para minha ira. Quantos copos são precisos para eu fingir embriaguês e não dizer o que penso com o tom certo para o conteúdo léxico-lixo que elas me arrancam já sem par? Só os passos e a simulação da calma que insistem em “parecer”.

Não consigo fazer laço, o som é de corda, a tensão sem partitura é antes ruído do que melodia, a tensão não vibra: quebra. O desenho não explica: se desfaz. Eu morri antes mesmo de alcançar seus braços que oscilavam em outras cinturas e traços violentos como as palavras que eu nunca soube dizer, a sensibilidade de certa forma ofendia sua precisão selvagem e até estúpida. Você já me tirava algum sangue (de barata), algum barato de prazer .

“Olha você dobrando a esquina”. Já não vejo o vulto, mas o seu perfume insiste. Quantos corpos lavam minha memória suja? Quantos goles para engrossar o sangue ? Para aplicar a hipótese?

domingo, 11 de março de 2012

Hoje me deu uma saudade de seu corpo, de seu corpo mesmo, a gente nem se amava no último ano. Li uma crônica do Rubem Braga . Ele descrevia uma mulher nua. eu lembrei de você. Por todas as coisas óbvias que nunca importamos. Eu concordei com ele sobre lembranças eternas e beleza.
Eu matei você, mas como sou sensível , preservei suas havainas perto da cama, até que gastaram. Seu cheiro nos outros me dá crise de espirros. eu continuo amando o Michel Melamed, e você certamente assisti aos piores filmes.
Me apaixonei pela professora de historiografia. Cresci, consegui um desprendimento que me afasta de possíveis enlaces porque eu abandonei o Caeiro e sou amante do Álvaro de Campos e nunca mais disse poesias para pessoas sem roupa, porque não sei quem são como também não sabia quem era você. Nunca haverá tempo para saber. Quem era você?
Éramos irresponsáveis e efêmeras . Que sorte. Passamos e com quantas pessoas nos apaixonamos?!. O espanto de ver os outros é uma violência, é uma violência, quase dói, essa multidão toda.EU NÃO QUERO. Queria seu corpo, seu colo. Seu corpo eu conhecia. Eu preciso dormir num colo que eu conheço, não nos queremos, nunca mais, foi ruim. Só uma questão de colo, sem solução eu sei. Você deveria viver às vezes.Eu não sei, sem solução, sem seu corpo também.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Por que como discurso gostaria de anunciar o fim dos bons modos. Para que todos os palavrões não mais se afugentem em sorrisos cinematográficos. Que todo fantasia ganhe uma avenida, e que ela esteja vazia. Para que todo cansaço da primeira vista transforme-se em tesão de primeira noite. Que toda mentira não se sustente por mais de dois alhares. O fim anunciado das equações de bares, a falência prevista do "moderno" enquanto ceticismo barato.
O grande final, finalmente , do estado de contrato. Que despida dos bons modos a ternura dance livre no corpo.
O calor, o caos, a casa e os calos oferecidos em ação de escambo da dor, porque somadas nossas faltas seremos tão leves que explodiríamos, seríamos estrelas ou bombas.
O carro , a pia, o cachorro, a cachaça e a caneta, palavras, pregos em minha mão...eterno lapidar de vida, coágulos de mel, gozo contemplativamente a formação que minhas retinas pensam ser . A vida é alheia, mas há mãos, as mãos oferecem tapas, oferendas ao meu estômago. Ofício dos alheios.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

ENCONTRO, ENCANTO, EM CANTOS.
Era só um pouco de afeto em meio ao caos solitário que a cercava. Não havia espaço para a contemplação, para as frases imprevistas e únicas. No primeiro encontro só cabem clichês de pensamento pós- modernos de ilusões fundas das cavernas Nietzscheanas . A fotografia antiga, aquela da conclusão do ensino fundamental, que atrás de você aparece a bandeira do Brasil?, então, ela não diz mais nada sobre você. Você não tem identidade nenhuma e no fundo isso traz uma desespero calmo e frio. Fala de rituais ocidentais, de criações circundantes, como se isso lhe fosse familiar , talvez mais pelo caos do que pela beleza, perdeu a noção de beleza porque desde que conheceu a dor toda beleza é um punhal brilhante na carne anônima de qualquer personagem desconhecido e o que você diz não tem consistência, nem a tal densidade que lhe atrai em qualquer forma de criação e ser. Essa menina caminha para o infinito como quem caminha para casa. . Tem sapatos gastos, mochila pesada e pensamento cru, assim, de qualquer coisa, não sabe mais temperar idéias. A sintaxe é fraca, tesão morre se lhes impõem jogos burocráticos de prazer. É descrente a menina. Como se a vida nascendo lhe espantasse tanto que só lhe restasse o olhar fixo e vago mudando de cor que nem seus olhos no outono.
A outra do outro lado era um mistério impossível de se alcançar, um vulto que o olhar acompanhou querendo saber quem é. Uma nuca que excitava a menina e um conversa possível aconteceu. A moça em questão carregava nos olhos e nos outros sentidos o espanto da novidade por assim “ser” ela , viajava em abismos bonitos e impossíveis, com a ousadia de quem desconhece qualquer forma de outro que lhes apresente , criou um signo de força e prazer, liberdades impossíveis de ser, se houvesse antes um entendimento programado e seco...Não era desejável uma explicação possível.
O café ficou em 15º plano. O pasmo era o de ver e ouvir uma necessidade de palavras ocas, aquelas que ecoam pensamentos possíveis alimentando verdades sãs , enquanto o relógio trabalhava, um homem carregava a vida na cabeça, uma mulher carregava os sonhos numa imagem, um homem corrompia o corpo de uma mulher, uma mulher acabava com os sonho de homem, alguém morria, alguém gozava, alguém sangrava e a menina desejava com uma calma irritante , por acréscimos de ficção, aquela outra,possibilidade de paladar, de tato, tetas, tintas e tantas outras coisas não poéticas e táteis e lindas,,enquanto o café esfriava....mas tudo era regado à água, café e pão de queijo, chuva de fim de dia, trânsito de cidade urbana, pressa de rota e de rotina e vontade de mais. Mas ( conjunção ganha de advérbio?) a sintaxe que se dane, ela procurava signo nas suas nuances, ela ainda procura e desencontra e encanta-se ,ela é doida e dada à outra, que ,de repente, nem existe!!!! É outra, sempre, outra. Bonita e distante.Desejável.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

São Paulo, dia qualquer indo embora junto comigo.

Qual o veneno que acalma a dor dos ônibus cheios, das casas pequenas, do espaço que é sempre dos outros, aquela dor vazia que nem melodia de bossa-nova que não se justifica de tão desnecessária, aquele gole de cachaça descendo seco ...ainda seu espanto e desespero de ainda ver uma beleza inexplicavelmente inédita em rostos que nunca te dirão nada porque não se fazem possíveis e já fluíram lágrimas mais fundas que a distância entre as almas, as grandes misérias das pessoas que eram fortes e lindas, o luxo no meio do lixo, o lixo sentando nas cadeiras santas, suas retinas querendo te explicar o mundo, teu pão já sem café , tua coberta rasgando, seus becos maiores que a lua cheia, seus esmaltes secos e seu batom borrado, seu vestido sujo em que seu corpo mente, seus olhar gozando o espanto , o crime, a injustiça, o calor, o corpo e mais :o teu sangue ralo e sacro cheio de pulsação para A VIDA, se há ainda...Qual o veneno que acalma esse sorriso fácil por um olhar demorado , essa falta de verbo, esse pão de ver, esse não de andar para o sempre, essa negação quase louca das idéias comuns, esse cheiro de nada querendo corpo, comer o mundo e cuspir , cuspir logo em seguida porque tudo é muito adstringente e não sabe ainda engolir, as mãos em eterna fuga do seu corpo, o laço sempre impossível de seus sentidos, a mesa sempre vazia de flores, a saudade dos anos de menina, o erotismo impossível dos anos de mulher, a muralha de gente que atravessa em noites absurdas, as pessoas que nunca vai ver, todas as poesias impossíveis de se gozar, os lances sempre refeitos como uma maturidade que te ofende, numa previsão que te brocha...e ainda qual o veneno que acalma essas luas, essas, essa sensibilidade quase arrogante de não ser só instinto , sangue e carne?

Saudades fundas de quem um dia não vou ser, sem mais.

O Olhar já coordenava, antes.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Agora!

O que dizer de agora? Mortes , homicídios, acidentes de carro, embriaguez....e há amor nos bares ou igrejas?.Papai Noel e mamãe Noel no Motel Alasca. Superficialidade das pessoas de modo geral, as festas natalinas e a quadrilha de Drummond cabem NA SOBREMESA? E não era só o Cazuza que queria a sorte de um amor tranquilo com sabor de fruta mordida... Porque antes de saber para que servia o amor já era tarde para perguntar...e o preço do café subiu e ninguém tem tempo para o olhar, as moças de Ipanema foram para a puta que pariu e o soneto amor total não flui mais lágrimas nas mocinhas bronzeadas artificialmente de idéias insolúveis em boa água. Antes o esboço era bonito e o vestido rasgado e feio é arte nas pernas das moças rebeldes e ocas. O abismo está gritando em todos os lugares, nomes lindos de princesas perdidas e feiticeiras irradiantes e lindas. 1, 2, 3 4 mil motivos para ser feliz divididos em suaves parcelas de sacrifícios vãos, de mãos livres e abraços sem gente. A boca vermelha engolindo o rapaz e lhe cobrando caro o sacrifício do prazer enquanto escambo de ações.

E arte criando metáforas, facas sujas de sangue...o abismo no centro dizendo-se espelho...35 garrafinhas pet formando um coração oco e vermelho, uma coca-cola antes do cálculo frio do final de namoro errado e. A mocinha suicida escutando Chico e remoendo memórias precipitou-se na ponte mais próxima e findou a agonia de existir.Será que tudo pode ser dito? A mocinha não disse nada a ninguém.

sábado, 21 de janeiro de 2012

Corpo em brasa na tarde cinza, verbos imprecisos e palavras descrentes porque a política dos verbalismos sempre me abandona quando me perco na sensação esperta, ébria e quente. Atração do seu corpo e eu quase me dissolvendo na vontade de você porque não sei o que eu disse quase não sei lembrar o que você disse. Você não cabe na minha sintaxe, sua precisão é de signo , de pele, de paladar, de mordida . Porque por você eu criaria mentiras eróticas e intensas de noites acordadas e dia vermelho. Brilho de água no chão e a tarde cinza foi ficando quente na minha boca e seus desenhos povoando minhas vontades...e seu gosto abrindo espaço no meu desejo . Fome de você vai me enfraquecendo de palavras e em silêncio vou querendo seu corpo , seu calor, lábio e língua...quase não existe palavra pra dizer da confusão que você vai fazendo nos meus sentidos tão espertos quanto atônitos e nervosos. Haja chuva, chuva aja...ou não durmo. Preciso do seu corpo em pele , em silêncio, em brasa e em mim. Corpo e libido, língua e libido, lábio e libido...você, fome de você. Abandono a linguagem.

domingo, 1 de janeiro de 2012

Calma, calma, calma. O abismo me parece inevitável.Se meus sentidos me enganassem eu acreditaria em todas as promessas noturnas .
Cansada, cansada, cansada. Se eu fizesse um filme para agredir seus ouvidos, sangrar essa sua pele bonitinha e cheirosa.Um filme onde o protagonista envolvesse o espectador em seu desespero e onde todos os personagens tivessem um grande buraco na testa e no fim ninguém de fato mudasse porque enxergaram a inutilidade do movimento contrário aos seus instintos ferozes e piedosos. Uma puta piedosa que não cobrava seus serviços aos miseráveis, chorava lágrimas quentes toda manhã por Henrique, um travesti de lábios grossos e vermelhos e caráter corrompido pela vaidade que lhe pedia peitos novos e bunda empinada. A puta foi mulher dos machos ordinários e seu dinheiro alimentava a vaidade de Henrique e também seu próprio gozo de comprar um corpo, comprar,comprar,comprar. Queria escrever uma história que arrancasse poesia do lixo hospitalar, o lixo hospitalar é o que mais fertiliza poesia: seringas sãs, sangue doente, sangue seco na ponta da agulha, algodão com secreções, nossos pedacinhos se fragmentando aos poucos , é muita poesia.Meus esmaltes também podem trazer uma poesia plástica com a acetona esterelizando minhas escolhas. E os cílios mais negros, o dente mordendo o lábio, o lábio lembrando a noite e a noite eternizada em insônia insana...a vida poderia ser um filme. Seríamos críticos dessa fotografia gritante, dessa puta vida!!!!!!!!!