domingo, 31 de julho de 2011

Copos


Brincando com um copo cheio de sonhos, sementes de afeto sem útero gestor. Abortando em todas as noites de sábado das esquinas sujas de uma metrópole arrogante em suas pungências. Depois do décimo oitavo copo um primeiro corpo de amor forjado, pressionando o meu. Me dizendo da incompatibilidade de sangue, sal e santos.
Quando a vida vira uma montanha-russa, quando sou só apreensão e medo diante da força, quando sou contemplativa na fragilidade de sexo, nas enumerações das saudades, na intimidade morna do teu sereno, dos teus palavrões e doçuras, entre os rasgos de coração.
Comprei chicletes , cuspi em você, você bateu me bateu e eu acreditei no nosso fim. A cama estava limpa, nós, sujos

quarta-feira, 20 de julho de 2011

“Até um canário precisa de afeto”



Estou com uma pressa que você chegue. É que eu sinto falta do seu jeito de pedir desculpas e ainda tem gengibre na geladeira e só você sabe usar gengibre na cozinha. Eu também não escuto ninguém reclamar da minha insônia e dos meus livros jogados pela casa. Me disseram que você talvez não exista e por isso o meu amor é incondicional.
Quando você estiver triste e preferir dormir no sofá ou então sair antes do meu café eu não vou achar egoísmo as estranhezas que tanto me encantaram. Mexer no seu cabelo enquanto você dorme é tão bom quanto ficar horas beijando você.Se você existisse eu acreditaria em amor, nas religiões e até acharia a vida possível. Talvez você se irritasse com minha coleção de bolachas de chope e gostasse de decorar a casa com cores escuras ou até me convencesse a ler Best-seller e seria bom ter seus esmaltes discretos junto com minhas cores arco-íris.
Poderíamos assistir à chuva nos domingos cinzentos da cidade e eu poderia dizer o quanto eu acho Clarice a mulher mais linda do mundo e de como é estranho sonhar diariamente pulando num abismo escuro e talvez você quisesse segurar minha mão enquanto eu dormisse, mas não entenderia minha sensata recusa a esse remédio.
Enquanto você não existe eu me deito com ilusões passageiras e igualmente lindas, porque “a vida é urgente” tanto quanto minha solidão.Meu teto e meu chão por vezes me abandonam quando penso na sua possibilidade de corpo, boca, íngua, calor e olhar.Você existe tanto na minha imaginação que talvez meus amantes te enxerguem, meus amigos te amem. O mundo vai colocar os corpos em harmonia e eu vou trair você com muita liberdade.
A importância de alguém é uma construção egoísta, inútil e linda. É libido transcendente.
Eu uso você para justificar o sol, os feirantes, a falta de água , a crise mundial e até a guerra dos sexos. Se você existisse eu te daria tanto trabalho que talvez você gostasse de mim e perdoaria o amor que inventei ser seu; Todavia nem você nem eu existimos. Somos palavras tortas.

sábado, 2 de julho de 2011

"A objeção, o desvio, a desconfiança alegre, a vontade de brincar são sinais de saúde. Tudo que é absoluto pertence à patologia"" (Friedrich Nietzsche)


E eu sigo acreditando que minhas dúvidas são saudáveis. "O mundo anda tão complicado", quis amarrar o cadarço do seu all star vermelho e velhinho, mas você parecia ter pressa, não tomamos café junto, acho que meu café tá fraco, frio. Eu acho que é esse pó, será que se eu trocar a gente pode ficar mais tempo na cama? Os comerciais de t.v. dizem que com perfumes e banda larga seremos todos felizes. Eu queria ter amor pra te dá, tanto quanto eu amo a cidade suja e cinza , a água e o céu. Quando você me disse que iria embora para sempre eu fiquei tão triste que esqueci de me alegrar da novidade que eu sempre quis, eu não sabia o quanto não te amava, e isso não tem nada a ver com o seu gosto por filmes clichês americanos, ou pela música ruim que você ouvia. Eu sofri porque eu era egoísta. O amor de uma ave por uma árvore nunca daria certo, não sabíamos de quem eram as máscaras que escorreram nos nossos rostos molhados e vermelhos, foi tudo tão lindo e delicado até nosso fim, nosso amor era um enredo Clariceano com trilha sonora do Marcelo Camelo, mas o fim cazuzeou qualquer tentativa de arte. Virou romance realista cheio de cinismo e mentira. Talvez por força de futuro presente que é tão Horizontal e contemplável. O cheiro de café invadiu a sala de novo e quase saí correndo, a repetição dos gestos foi criando uma teia de afeto e tesão de olhos, e corpo morno e macio.
Era seu sal no meu lábio o que ardia todos os meus sábados, e no domingo eu vi 4 milhões de pessoas ansiando amor com o corpo em inclinações dionísicas e humanas porque quem santificou o homem? O homem também é um pedaço de carne e bem irracional, por vezes. Quem mandou saber-se? sabe-se quem?. Uma chuva me acalmou quando seu corpo saiu do meu hoje pela manhã, você voltou pra rotina de ônibus e fiquei lembrando do seu céu dia iinteiro.
Antes do verbo, antes do verbo, antes do verbo mate minha sede, será que um dia eu posso engolir você?