quarta-feira, 23 de janeiro de 2013


Sobre o transbordamento.

Ela abriu a porta do apartamento, o zíper do jeans, um sorriso de ninfa. Foi numa manhã de sábado que ele guardou seu telefone.
Ela usava caneta vermelha, escreveu seu número embaixo do umbigo dele, assim fora guardado.
E ele que andava exibindo uma cara grave que nem dele era, cumprindo prazos que nem sabia o motivo.
No último domingo comprou papel de carta, caneta compacta preta, como ele gosta, para escrever para ela.
Se sentiu tão bem. Tudo que sabia dela é que ela joga sinuca, pois essa era a mesa da sua cozinha e também a cama, sabe que ela é leve e desliza carinhos pela pele.
Ele falou pouco, como de costume, afinal era só uma desconhecida e talvez, pensa agora, sua carta nunca encontre endereço.
O fato, pensava, é que há sorrisos por aí, para limpar o olhar,para livrar o corpo da roupa arrumada.E por instantes brilhantes,entender que a função nobre do corpo é dança, carinho; sagrado e rotineiro como nos relacionamentos longos.
Serenos e dionisíacos, das paixões fulminantes e tempestuosas, ou efêmeras e felizes nos encontros do acaso, numa manhã laranja.
Ela lhe disse que gosta de ler artigos de ufologia. A moça tem uma cara bonita e iluminada.
Ele viu frases em francês escritas com caneta permanente na porta do banheiro.
Não trocaram telefones, só sorrisos e abraços.
Ele reparou nas frases Nietzscheanas nas coxas dela, nunca vira antes Nietzsche tatuado em coxas tão bonitas.
Naquela madrugada, ela fumou maconha e disse que o dinheiro corrompe o amor, mas o sexo ainda é livre.