tag:blogger.com,1999:blog-31204976076371536022024-03-13T11:36:29.506-07:00DescoisificaçãoDilmahttp://www.blogger.com/profile/02265484919154276785noreply@blogger.comBlogger129125tag:blogger.com,1999:blog-3120497607637153602.post-81277590526282310992017-08-24T17:27:00.001-07:002017-08-24T17:27:41.158-07:00Eu queria te fazer um poema<div style="text-align: justify;">
Hoje à tarde eu li uns poemas daquele livro novo. Eu adoro poesia, semana passada mergulhei nos poemas do Manoel de Barros e fiquei até com dó de ter comido rã frita na meu aniversário, mas passou (o sentimento sobre rã). Hoje eu fiquei ouvindo umas poesias do Drummond e do Pessoa no YouTube. Um dia eu quero fazer uma poesia para dizer de todos os seus signos. Agora mesmo, se eu soubesse colocar todas as cores do meu quarto que te esperam, a sua fronha de cetim, que eu sempre acho que é seda, porque agora mesmo procurei o google,mas não entendi a diferença,eu queria fazer um poema e colocar dentro dele o sentimento de sexta à noite, porque eu sempre acho que o próximo ônibus que para em frente a minha casa é o que te traz, e queria um poema que dissesse da saudade antecipada que me vem antes mesmo que você pegue o ônibus no final do domingo. No poema, esse subjuntivo esperado, eu colocaria também essa vontade de ter um canto só nosso, eu podia colocar no poema, meu medo que você fosse buscar meus chinelos, depois daquela confusão toda no mercado de Aracaju. No poema, eu colocaria aquele ocre raro e único que fez fundo para tua cara sorrindo e chorando sobre as águas de minhas raízes de memórias infantis, naquele rio das carrancas, das histórias de seu Antonio. No poema, caberia a alegria doce de quando você acha um cabelo branco em mim, e a gente sente que o tempo está passando e estamos juntas, e estamos escancaradamente felizes. No poema eu colocaria a alegria de te abraçar nua, eu queria um poema agora, um poema que fosse como um maçarico derretendo cobre, um poema que fosse feito de algodão e que atravessasse esse trânsito das avenidas inchadas que separam minha casa da sua, um poema de algodão que vencesse toda a ira do trânsito, da garoa gelada aos nove graus na segunda de manhã, um poema tão original como esse cara que está vendendo pizza agora às nove horas da noite num "carro da pizza". </div>
<div style="text-align: justify;">
Flor, um dia vou fazer um poema que vai falar até das tuas sardas me sorrindo sob o sol de Salvador.</div>
Dilmahttp://www.blogger.com/profile/02265484919154276785noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3120497607637153602.post-7625848904206324072017-04-12T14:29:00.001-07:002017-04-12T14:35:49.969-07:00A natureza dos meus olhos<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri, sans-serif;"><br />
Mais um roteiro começa a ser desenhado pelas nossas vontades, pelas buscas no
google maps, pelos e-mails enviados, pelos preços avaliados, a cada busca
surgem histórias, alegrias de nossas viagens, lembranças de pôr do sol, de
nossas comemorações diárias. Quantas alegrias regadas a acarajé com cerveja na
pracinha do bairro, de mãos dadas, de abraço dado, quantas idas à academia, e
todo dia é uma novidade para dividir, quanto tempo de silêncio dividido na
biblioteca na qual os funcionários já nos conhecem, quantos chocolates ( e até
flores) partilhados para que o cansaço nunca ofusque nossa alegria diária,
tantas vezes fechamos os olhos depois do cansaço que a leitura ininterrupta
comove em nossas vistas, e cada vez mais, enxergamos as cercas. </span><span style="font-family: Calibri, sans-serif;"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri, sans-serif;">O
mundo é uma coisa tão maluca, eu não sei dizer,mas há muito força na nossa
crença, enxergar nossa própria fragilidade, questionar a dança dos dias, ir à
feira, comprar sapatos, separar um tempo para te ler poemas.</span><span style="font-family: Calibri, sans-serif;"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri, sans-serif;">Essa
nossa força me faz ser gigante.Vivo simples, não aspiro desafios de acumulação
como nossos pares, vivo simples, quero tempo, o tempo de te ver, te ver e
reparar nos cachos bonitos do seu cabelo, reparar nas suas escolhas lexicais,
nas suas sobrancelhas, no calor de sua respiração antes de você dormir, também
somos parte de uma teia de afetos, somos filhas, irmãs, somos pessoas que
ocupam um lugar,uma função, nem tudo funciona como a função prevê, não sermos
máquinas nos rende muitas lágrimas, muitos medos, muita dúvida na lida diária
com tanta gente, o poeta disse " a injustiça não se resolve",mas a
monja Cohen tem me ajudado a diminuir vaidade que há em mim. </span><span style="font-family: Calibri, sans-serif;"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri, sans-serif;">Temos
reservado tempo, são tardes lindas, onde a luz da janela da biblioteca incide
em linha diagonal na mesa de madeira silenciosa que mobília a sala limpa. Esse
tempo nos aproxima, caminhamos. Pelas sintaxes gordurosas de enfadonhos
teóricos ou pela beleza imponente de escritores brilhantes, cada um deles, para
o deleite dos nossos olhos ou para desespero de nosso raciocínio, move alguma
coisa em nós, destrói alvenarias de sangue, do sangue de que se fez a primeira
casa da cidade. </span><span style="font-family: Calibri, sans-serif;"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri, sans-serif;">Eu
tenho alegria de saber da nossa vontade junta, eu sei tão pouco, a minha
alegria de saber é imensa,não é um castigo estudar, não é feio passar horas
tentando encontrar entendimento, no fundo esse foi o luxo que eu sempre quis, O
luxo de ter tempo para pensar, quando olho ao redor vejo homens e mulheres que
não perguntam, seguem a lida diária, sem o Esteves da padaria, talvez não
percebam as teias de concreto que coloca cada um numa jaula, quem sabe sintam o
fruto sem lhe nomear o sabor, mas o fruto está cada vez mais desnutrido, a
sanha torta do querer muitas vezes nos põe em aflição, ânsia desordenada
de querer um cessar do exército de homens maus , esses que aumentaram a vida do
pobre junto ao ponto e fizeram subir 60 centavos o preço do café da padaria.</span><span style="font-family: Calibri, sans-serif;"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri, sans-serif;">Mas
é na luta linda e boa para barrar minha própria ignorância, para fazer domar
essa minha burra vaidade, na luta para fazer caber a vigem dentro do orçamento,
é nessa luta limpa, sã e boa que eu percebo os milagres. Milagre<span class="apple-converted-space"> </span>vem de <span style="background: white;">Do Latim MIRACULUS, “causa de espanto, admiração”, de MIRARE, “olhar com
espanto”, de MIRUS, “maravilhoso”. O aconchego da tua voz, na aula sobre
estilística descobri que persona,vem de per son, pelo som, é que é marca de
intimidade reconhecer o que entre todos nós nos diferencia, a voz, marca de
pessoalidade. A sua voz é uma casa que eu quero morar,Flor. Pequenos e
escandalosos encantamentos me tomam os olhos e os braços, quero na intimidade nossa
dizer com todo o meu corpo, som e força do milagre que é existir na tua
presença.</span></span><span style="font-family: Calibri, sans-serif;"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="background: white; font-family: Calibri, sans-serif;">A tua presença,morena. A tua presença morena a embalar os
meus verbos de força e profunda doçura bruta, como beijos de desjejum. Nosso
Tudo é força,Flor.</span><span style="font-family: Calibri, sans-serif;"><o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
Dilmahttp://www.blogger.com/profile/02265484919154276785noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3120497607637153602.post-88755919170244860532017-01-01T12:36:00.004-08:002017-01-01T12:36:41.066-08:00Janeiro<div style="text-align: justify;">
Você sabe que dezembro não é o meu mês preferido, eu sei que também não é o seu. Embora eu adore aquelas plantas de folhas vermelhas que enfeitam as árvores de algumas avenidas da cidade, no mais dezembro contabiliza afetos de sangue e tempo e isso é meio ridículo, há muitas coisas com as quais eu não sei lidar, dezembro talvez seja uma delas. Estar com você é sobretudo esquecer de datas, gosto de nossos silêncios juntos, de nossas palavras também. Que esse ano a intensidade de nosso querer seja bonita como é, porque o nosso encontro de sorriso é um presente nessa passagem nossa aqui nesse espaço e tempo. Eu gosto do itinerário de ir até sua casa e de sua casa também, gosto do verde que me recebe antes de você, é sempre bonito. Passageiros cansados e suados de suas rotinas desembarcam abrupta e apressadamente nos pontos de ônibus, enquanto eu vejo o itinerário que te leva à escola, as ladeiras que foram estrada de seus primeiros passos longe de casa, a rua do colégio em que você viveu seus primeiros amores, a loja de doces perto da sua casa, as ruas que foram crescendo junto com você. Gosto também de observar seu altar literário, os livros que te fazem a cabeça, seus mil cremes para cabelo, sua pasta de dente que sempre está longe do lavabo, os chinelos brancos, a roupa de dormir e a escova de dente que você me empresta, e também a brisa que entra pela janela do seu quarto pela manhã. Gosto de atenta e silenciosamente ver todas as coisas que compõem você, dentro de sua casa isso é evidente,porque tudo é decisão sua: o lugar onde fica a canela, o açúcar, a farinha sempre longe, porque não é sempre que se come farinha na sua casa, salvo exceções em que eu apareça,seus inúmeros potes plástico que guardam temperos que transformas qualquer pedaço de frango na melhor coisa do mundo, seus tons azuis espalhados pela pele,capa de livro, colares, travesseiros, seu quadro bonito lembrando a cidade que te encantou pelo calor e luz.</div>
<div style="text-align: justify;">
Janeiro começou com um sol daqueles das praias cearenses, começou com a sua temperatura preferida, eu voltei para casa hoje celebrando silenciosamente a natureza do nosso corpo, o encantamento do nosso encontro, que tenhamos sempre e sempre saúde no corpo e na palavra para reparar, mesmo no meio do caos (e caos há e muito ao redor) que temos uma à outra e que nossa vontade converge numa poesia de sol, como fevereiro, como sua festa pagã que põe o mundo em festa. </div>
<div style="text-align: justify;">
Te Tudo,Flor.</div>
Dilmahttp://www.blogger.com/profile/02265484919154276785noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3120497607637153602.post-38171487352624974052016-11-15T13:51:00.000-08:002016-11-15T13:51:08.479-08:00Um útero não é uma boa metonímia<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Um corpo, um útero não precisa carregar um filho. Um útero e uma mulher em punhos. Acordada às 6:00 da manhã, corpo já vestido com a roupa de trabalhar, o corpo caminha lúcido para a lida da vida reta, atravessa uma porta,dois portões, duas catracas, de novo dois portões e uma porta, assina o ponto, a caneta bic azul soma mais um dia num papel sujo que não diz da dona do corpo. O corpo que caminha lúcido quer antes a dança que o passo adestrado, o corpo molhado entre as pernas espera a chegada da praia, chegado ao mar, o corpo é só radiância. Aos encontros das conversas das mulheres que fiam cabelos de filhas e rezam a ladainha dos maridos, esse corpo silencia e respeita, respeita com o silêncio e a solidariedade de quem também é corpo. A dança de cada corpo quando harmônica com cada grito sabe da diferença de quem habita cada espaço de carne. Os punhos de uma mulher não estão no útero, estão no fiar intenso de suas próprias histórias, no sangue de tanta gente que morreu pra dizer que a mulher pode, a mulher pode, a mulher fode, a mulher quer foder. O corpo da mulher não é um metafísica pagã criada por uma palavra masculina, nosso sangue escorre, como nosso gozo escorre, uma mulher tem tesão , uma mulher tem desejo, uma mulher pode tudo,um mulher pode querer ser toda,todinha de outra mulher.</span></div>
Dilmahttp://www.blogger.com/profile/02265484919154276785noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3120497607637153602.post-489585166105235072016-10-03T10:17:00.001-07:002016-10-03T10:49:27.135-07:00À mãe sem mãe<div style="text-align: justify;">
Ela me devora qualquer esperança de entendimento, porque comigo ela se mostra de verdade, e às vezes eu vejo um açude de rancor, muita ingratidão represada, mas quando sua ira arrebenta nunca estoura a barragem que a prende, não, isso não, ela leva umas cercas vivas onde eu criava minhas mudas verdes de alguma esperança diária. Ela vai adoecendo de tristeza, enquanto chacoalha torrentes para arrastar minhas cercas, ainda que verdes são tão frágeis, tão cansadas desses arames que a represa dela me empurra, tem dia que desce rio abaixo uma bola de arame e as flores, que eu cuido tão diariamente e com tanto zelo,embotam, amassam o visgo e perde pétala. Ela ouve de todos as piores coisas, a falta de ética, a mentira, mesquinhez mais atroz, mas de mim, nada pode ser dito que não seja amém.</div>
<div style="text-align: justify;">
E assim vai se perdendo de novo o que foi para sempre pisado, as grandes dentadas que ela apertou na minha alma chega inflamam quando a represa anche. Essa semana mesmo minha carne tem mais dores que vida de tanto que ela fere, porque eu ainda acreditava no amor, mesmo quando ela desfez, ela cria umas correntes nos meus tornozelos, mas eu sei como quebra, é que a cada separação eu fico sem um pé, mas os tornozelos estão inchados de novo, eu tenho medo de salvar um e perder meu corpo que levei mais de duas décadas para torná-lo unidade fora das correntes. </div>
<div style="text-align: justify;">
Para mim, que sou irresponsavelmente de amor, é mundo doído quando a linguagem falha, quando a mesquinhez se infiltra e cresce uma nódoa podre nos panos que estavam quarando tão bem, nosso laço tava quarando, mas nesse sol de São Paulo é difícil de limpar, ela é triste por mim, eu sinto a espera de mais de metade de um século nas suas mãos, eu não quero magoá-la como todos os outros, sempre sofri calada desde a perda do meu pé, depois que arranquei a primeira corrente. Mas fui chorar num outro endereço. </div>
<div style="text-align: justify;">
De novo, a mesma ameça da ausência, como se capitaliza fácil as relações de amor,meu deus. De quantas mágoas se faz uma filha? É feio como a tentativa de ser minimamente ética pode derrubar uma casa, desmascarar uma família inteira. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Dilmahttp://www.blogger.com/profile/02265484919154276785noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3120497607637153602.post-38233049582784674732016-06-30T14:32:00.001-07:002016-06-30T14:32:07.750-07:00céu<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">Esse semestre foi atarefado, tarefa era nome que me lembrava terra, pai sempre falava em tarefa de terra, nunca soube direito a extensão disso,mas sei que envolvia valores, o semestre atarefado também envolve, ter a barriga cheia pra poder sonhar é importante. Mas mais, eu não quero ser a velhinha do filme que teve seu teto roubado. No último ano a responsabilidade do teto todo meu caiu nos meus ombros como uma bigorna cai na cabeça dos personagens de desenho animado. Quando eu assisti<i><b> Amor </b></i>pela primeira vez eu chorei, porque refleti sobre o que eu já sabia, das limitações do corpo, o desespero do amor que tem sua casa/corpo ruindo. Filme duro, filme de amor também, não desse ocidental e reproduzido, mas de outro, molecular, orgânico, que tem corpo, que cai , que tem rugas lindas e álbum de fotografia. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">A velhice pode ser linda,a velhice é agora. Só existe o tempo da língua sentindo o cuspe, a fruta, a água, só existe o cheiro de sabão em pó na coberta recém lavada, de carambola madura nas bacias que vendem na feira, só existe o tom indefinível do laranja do céu de hoje, só existe o barulho que escutamos boiando no mar,só existe a pele macia e quente de dentro das coxas de quem se deseja. Essa velhice é a velhice que eu quero, o caminho é todo dia, é todo gesto, é a tentativa de beber mais água de coco, de colocar gengibre na nossa comida, de ter mais sabedoria que letramento.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">Essa alegria que vem atoa e nos cobre com laranja, com vermelho pôr do sol, de azul tinindo o céu, de neblina, chuva torrencial e sol no mesmo dia. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">O teto virá sem que sejamos corrompidas por esse tempo mesquinho que nos cerca, virá com as flores que nos aparecem quando começamos a reparar nelas, como as comidinhas que gostamos, e que agora multiplicam-se os pontos que as ofertam pela cidade. Virá sem que abandonemos amigos, sem que esqueçamos que mais vale ter olhos ternos e doces, porque é preciso tempo para que sejamos mais gente que valor/lucro/produção, que às vezes , aquele chiclete que demos ao menino que queria vender coisas no farol é muito mais importante do que uma aula que preparamos sobre sintaxe,Saramago ou Clarice. As coisas boas já são, são os desejos de nossas mãos dadas abrindo meses,anos, abrindo envelopes colados com tenaz e escritos com caneta vermelha e sobrenome nosso.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">Flor, eu vi o céu,viver é bonito , te ouvir me dá tesão .</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">Observação:mesmo que você cante aquela música detestável do Raimundos.</span></div>
Dilmahttp://www.blogger.com/profile/02265484919154276785noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3120497607637153602.post-88107664463510779652016-06-09T17:40:00.001-07:002016-06-09T17:40:07.652-07:00Calor.<div style="text-align: justify;">
9 º C em São Paulo e as flores roxas sorriem rijas como meus mamilos quando encontram sua língua. O frio que congela minhas mãos e pés traz uma luz mais funda e dura no cimento de velhas calçadas da cidade, calçadas verdes de musgo e duras de lembranças esquecidas, quantos amores começados em beijos gelados de chope nas calçados e bares dos bairros boêmios. Esse frio me convida para dentro da sua saia, a meia calça preta escondendo suas coxas roliças acendem desejos e atiça a urgência das minhas mãos, a cidade hoje ficou coberta de homens e mulheres de tons graves, eu pensei no casaco que você possivelmente usou hoje, tentei adivinhar a cor, a textura e seu cheiro doce encontrando a gola do casaco onde seus cachos recém cortados exibem um brilho que dança junto com seus dentes. A cidade tomou um banho de luz fria hoje e eu tenho 90 redações para corrigir, mais de 4 números para ligar e uma bibliografia pra ler, mas nada disso é tão pleno, largo e fundo quanto esse tesão aceso ao mais simples vento que roça meu pescoço trazendo lembrança de teu hálito.</div>
Dilmahttp://www.blogger.com/profile/02265484919154276785noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3120497607637153602.post-48069554484527903102016-04-11T18:30:00.004-07:002016-04-11T18:30:59.923-07:00A doçura de ver os dias<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"> Sei que não estamos em tempo de flores e não desvio os olhos da barbárie dos jornais, das falas ainda verdes de tantos meninos e meninas que arrotam a loucura azeda dos discursos de ódio, eu ouço, eu vejo e no mais, não sei ainda se bem ou mal, silencio.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"> Apesar dessa dança vertiginosa do mundo, desse esperar de explosões, eu vejo a iluminação das coisas que são imensamente importantes. É imensamente importante sentir o frescor do dia quando se acorda cedo. Acordar e fazer comida e comer sentindo em cada poro sabor e cheiro, o azeite soando na panela quente, o pão torrando , o cheiro do café inundando toda a cozinha, estar nua e andar pela cozinha, partir laranjas, abrir janelas, abrir potes de açúcar, abrir gavetas de calcinha, abraçar o corpo que se quer e sentir o abraço e desejar estar onde se está, perceber o teto seu , o corpo respondendo a cada insinuação dos gestos, sentir a tenacidade da carne, a fome do corpo exausto de dançar, ouvir o batuque do samba numa praça centenária, sentir o cheiro de quem acabou de nascer e já tem palavra e sentido, já tem fome, já toma conta de outras vidas.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"> Assistir aos amigos e ser amiga , fortificar os laços nesse mundo bruto, nesse mundo magnífico que é nascimento todo dia. É graça o corpo, é milagre tanta precisão, é mágico aprender. Como eu apalpo essas manhãs tão azuis? É imensamente importante sentir a água do chuveiro sobre os cabelos e perfumar-se do perfume que se quer, dormir e acordar e amanhã ter vontade de ir à Colômbia ou fazer um curso de cinema inútil, ler literatura e ficar obcecada por aquelas 4 páginas que faltam para terminar, estudar a década de sessenta e os movimentos feministas e dormir às duas horas de um domingo escandalosamente anil , dormir porque um sol acabou de nascer entre suas pernas, dormir porque não é sono , é nuvem...É também imensamente importante ir à feira e comprar frutas e coentro, coentro é imensamente importante, mesmo quando nos encantamos com melões, nunca olhados antes, e o esqueçamos, coentro é importante. Também não poderia deixar de ser citado o jeito de dormir, jeito de dormir é imensamente importante, assim como matar muriçocas , sobretudo a muriçoca que lhe perturbou. É imensamente importante as pequenas grandes coisas, como : comprar gelatinas que sua namorada adora, imensamente importante cuidar para que a vaidade não deixe que essas coisas percam seu lugar de imensamente importantes, poderia também dizer da importância das letras, sobretudo as que falam dos desejos, </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"> As letras impressas nas passagens só não são mais importantes do que as passagens, são também da maior importância reservas de pousadas, a compra no supermercado de uma cidade nunca vista antes são da maior importância, é preferível que você não leve a chave do guarda-volume embora,como também é importante a comida numa mesa nova é a vontade de aprender uma nova receita como joelho de porco por exemplo ,mesmo que suas panelas não sejam de uma cozinha industrial, como é da maior importância perceber o laranja do céu antes da sete da manhã.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"> É da maior importância que voltemos para aquela parte da entrevista que o que a Simone B. falou era essencial para o que viria depois, mas cochilamos, é da maior importância que tenhamos sempre milho de pipoca e milho verde em conserva. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">Viver é da maior importância.</span></div>
Dilmahttp://www.blogger.com/profile/02265484919154276785noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3120497607637153602.post-61851658998312618002016-02-18T14:08:00.000-08:002016-02-18T16:03:15.417-08:00De aniversário. Flor, é seu aniversário e eu fiquei toda querendo escrever umas coisas bonitas para dizer o quanto estou feliz por estar pertinho, juntinho de você. Preta, você me emociona o tempo todo , você vem e meus sentidos todos seguem seus movimentos, estou até querendo fazer fotografia só pra um dia eu fazer uma máquina alcançar o que minhas retinas transbordam , mas numa fotografia não cabe todas as suas cores,não cabe os ângulos generosos que seus movimentos me dão.<br />
Esse ano será um ano importante, seu desejo vai criar <i>corpus</i>, forma e na forma da academia será feita a tua vontade. Preta, essa força toda é tão bonita, gosto de te ver assim, que nem ontem, você chegou fascinada por aquele livro , lendo as páginas , dividindo suas descobertas, suas inquietações, esse tesão intelectual tem uma força de cio ,Flor, e de mais um modo você me excita, aguardar a água ferver para fazer nosso café já me deixa sentindo seu cheiro, já respiro mais cadentemente na sua espera. Hoje fiquei vendo nossas fotos e vi o quanto mudamos o cabelo, os cenários, é bonito ver o mundo na sua companhia, é sentir o mundo, sentir no sentido mais bruto e doce. Eu tudo você, eu desejo você, eu desejo que esse ano seja lindo, seja doce, seja bonito, que os orixás, a energia das pedras de São Tomé das Letras, as rezas, os cantos, que toda luz , que tudo que for bom esteja com você fazendo teus dias gostosos e brilhantes que nem glitter,<br />
Flor, feliz todo dia, que a vida seja sempre linda como um pôr de sol visto de Itapuã e doce que nem saputi. Eu te tudo.<br />
Sua.<br />
Dilma.Dilmahttp://www.blogger.com/profile/02265484919154276785noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3120497607637153602.post-37982825365502009942016-01-14T18:03:00.002-08:002016-01-14T18:03:16.792-08:00A intimidade dos corpos São Tomé das Letras foi nossa viagem mais dengosa. Flor é uma luz alegre e um incêndio que o corpo quer. Os nossos corpos se entendem, se ajeitam ,se desejam, meu corpo por encanto do dela caiu na sesta, adormeci com a mão morna de seu tato macio, todas as pedras da cidade brilhavam , de certo que era para os olhos de Flor, quem ficaria indiferente àquele brilho em Flor? Pelos bares e lojinhas multiplicavam-se cores e saudações, os pássaros em rebuliço faziam canto pra Flor. Se eu soubesse também cantaria , também desabrochava em cores só para seu bem.<br />
Nossas mãos passearam juntas e não sentiram medo do ódio, tão alheio à nossa essência. Vimos juntas um novo tom de verde, um novo jeito de desaguar. O silêncio das tarde, naquele canto de mundo em cima de um pedra, era cortado pela nossa leitura, eu escrevi de um jeito inédito um texto que Flor me deu, as leituras foram ardentes e dengosas. Seus olhos amoleciam e cresciam como crescem as flores miúdas e cheias de cor. No silêncio da rua nosso silêncio conversava a cumplicidade do querer, prolongava-se pelas tardes molhadas os nossos passos juntos, prolongava-se o nosso espreguiçar, a nossa voz em uníssono de uma paz descansada de deveres. Os doces de São Tomé eram a afetividade dissolvida em leite e açúcar , a cachaça curtida nos sabores de magos e duendes marcavam de noz moscada e cravo a nossa língua.<br />
O Vale das Borboletas esperava em água e céu a chegada de Flor, e até o sol a procurou entre os galhos altos que escondiam as pedras. Flor, dada à natureza, ganhou luz e água das cachoeiras de Minas. O doce de leite , o cheiro de mato, o visgo do verde se jogava aos seus pés, eu me perdia de ver sua presença enchendo o mundo de luz, eu me emocionava com meus olhos cheios de sua imagem, transbordando nas bordas a doçura de água de cachoeira, nosso calor batizado nas águas doces e brutas, na força das pedras, nossa fita do Senhor do Bonfim batizada primeira nas águas do Rio Vermelho agora também da luz das pedras é conhecida.<br />
Sua alegria anuncia o carnaval, inaugura todo dia um prazer que só a intimidade dos corpos sabe desnudar. A intimidade dos corpos é esse amolecimento dos olhos , esse despertar pra um mundo tão íntimo que a palavra é ainda saliva, quando esmorecendo um músculo uma dança se inicia, quando o nosso quando desabrocha junto, rente.Dilmahttp://www.blogger.com/profile/02265484919154276785noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3120497607637153602.post-88548605828198824322015-10-26T19:57:00.005-07:002015-10-26T20:00:20.590-07:00<span style="background-color: white; color: #232339; font-family: 'Duplicate Ionic Web', serif; line-height: 26px;">"Mas não subiu às estrelas, se à terra pertencia"</span><br />
<div style="text-align: justify;">
Quem leu Memorial do Convento certamente reconhece a fundura desse chamamento. Invocando a vontade que sustenta as estrelas, Saramago faz rebuliço no peito de quem se entrega à leitura além do símbolo, quem também pinga seu sangue fazendo cruz no peito de Sete-Sóis.</div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #232339; font-family: Duplicate Ionic Web, serif;"><span style="background-color: white; line-height: 26px;"> O que se quer tanto com tanto conto? É tanto papel para preencher que há quem estando nu se amedronte diante do silêncio potente que o corpo é. Os olhos dela de manhã são dois infinitos de fruta pequena e doce, o corpo é a força onde suas tempestades todas se assentam, quando meus dedos passaram sobre e entre seus cabelos, agora curtos, eu vi e quis que minha mão,velha, sinta a mudança de seus cabelos, de corte, de cor, tingidos pelo tempo, pelas longas horas estudando apaixonadamente essas cismas que a faz precisa ,afiada e dona da linguagem, com batons e lenços e anéis e colares. A cidade fica pequena perto da sede de sereia que faz e fisga canto.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #232339; font-family: Duplicate Ionic Web, serif;"><span style="background-color: white; line-height: 26px;"> A cidade toda resplandece nesse outono inconstante, ela ergue, com um sorriso de sono, uma bandeira à dança dos corpos que se dão bom dias fundos, como uma raiz revirada depois da chuva, como o cheiro de mato quando caem árvores na sua rua.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #232339; font-family: Duplicate Ionic Web, serif;"><span style="background-color: white; line-height: 26px;"> Celebrada a linguagem, eu invoco silêncios para tecer uma cortina de búzios, conchas, um lençol com a vibração das cores dos corais, uma rede tecida com as histórias de ilhas desconhecidas, eu arrasto uma tarrafa de peixes prateados que são nossos retratos pelas ilhas que desconhecíamos, eu chamo Noel,Cartola e Pixinguinha , eu convoco tambores para chamar os olhos dela para mim.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #232339; font-family: Duplicate Ionic Web, serif;"><span style="background-color: white; line-height: 26px;"> Eu fabrico sete-sóis e uma nuvem que faz voar .</span></span></div>
Dilmahttp://www.blogger.com/profile/02265484919154276785noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3120497607637153602.post-8557011094647486532015-10-12T12:10:00.001-07:002015-10-12T12:49:14.999-07:00Quando eu era pequena.<div style="text-align: justify;">
Eu queria mesmo era aprender a nadar na barragem onde só os meninos podiam ir no final do dia, as meninas só iam de manhã pra ajudar as mães a lavarem os pratos, mas meu irmão me levou e eu aprendi com ele a nadar, isso depois de tomar muita água e puxar forte meu fôlego, aprendi também a pescar ,mas eu preferia ir à noite , porque me atraia mais a lua do que os peixes,mas meninas no rio à noite pouco se via, mas ele me levou mesmo assim, mesmo ficando com um bico enorme quando seus amigos davam em cima de mim.</div>
<div style="text-align: justify;">
Quando eu era criança eu queria matar passarinho que nem ele, mas errava as bala de badogue e ele ria.</div>
<div style="text-align: justify;">
Fui então pegando gosto por fabricar balas de barro do tangue de pai, e das balas fiz fazendas e das panelas de mãe fiz uma bateira pra tocar com uma banda imaginária que nunca tive, fiz das tampas da panela pregadas nas estacas de segurar o varal um volante de um carro, e um dia com Diguinho pendurado em minhas costas quebrei o muro feito mais de terra do que de cimento ,assim com muitos feijões hoje tem mais caldo do que grão, o tijolo quebrou e caiu na cabeça dele. </div>
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Vivemos assim a infância descobrindo o amor nas tensões de pregos enfiados nos peitos do pé e no silêncio da lua, Arlindo me ensinou muito de adulto sendo criança,quando hoje eu sei nadar por essas alegorias, descansando numa pedra submersa no rio eu vi o céu de um jeito que quem num sabe ir até num vê. </div>
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Hoje ele tem filho que diz meu nome e minha infância revive nessas arapucas que ele ensinou o menino a fazer nas últimas férias.</div>
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Quando eu era pequena eu via pouco tv, porque eu queria mesmo era poder brincar embaixo da carroça de pai, eu queria aprender a andar de bicicleta naquela monark vermelha que quase me aleija os dedos.</div>
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Eu era do mato.</div>
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<br />Dilmahttp://www.blogger.com/profile/02265484919154276785noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3120497607637153602.post-69177767776694223302015-08-16T21:48:00.000-07:002015-08-17T11:59:59.387-07:00"Abraçar e agradecer"<div style="text-align: justify;">
<i> Agosto todo amarelo, nome assonante como minhas palavras preferidas. Flores amarelas com gotinhas vermelhas vieram alegres das mãos dela , foi presente. A imensidão do mês de agosto, que tanto irrita paulistanos apressados, não se precipita na contagem dos dias,mas alonga as coisas bonitas dentro do peito. Sábado à tarde, deitada naquela colcha de retalho, no silêncio daquela grama do parque, ela achou um cabelo branco na minha cabeça, bem na frente, eu sorri sem pressa, porque eu estou contemplativa, eu estou. Vi notícias tristes na televisão e fiquei com o peito apertado, tomei vinho bordô barato e comi torrada com doce de leite, conversamos e no meio das palavras e dos rostos, senti a harmonia que o tempo engrossa nos afetos, aquele homem barbudo e menino veio para nos ver e falar e ouvir, a cidade de São Paulo assiste aos vincos no meu rosto e aos meus olhos amolecidos das coisas bonitas que a vida dá.</i><i> </i><br />
<i> Esse ano tenho aprendido muito de mim mesma, do meu apego ao meu corpo, onde sou,de onde falo, mas na calmaria que não veio sem dor, vejo milagrar orvalhos de mulher. Vi um homem bruto chorar soluços desmantelados que chamaram meus ouvidos atônitos para a confusão do mundo. Senti a calmaria em minha unidade, e senti a modéstia e a generosidade de não querer parir, é egoísmo ser mãe. Eu comeria minha cria com os olhos, esses mesmos que veem o mundo sem cercas e arames, essa coisa bruta de parir é um magnanimidade que foi apodrecida pelos estatutos ,pelo sangue nos olhos que todos nós carregamos, deve ser ,também, dessa truculência que Clarice fala. </i><i> </i><br />
<i> Eu quero mesmo uma simplicidade vagabunda que não sabe o nome das coisas e por isso,inventa-as mais bonitas, mais coloridas. Eu divido meu silêncio e minha confusão com ela, ela é uma mulher que invoca um mar no meu peito, água querendo fluir , fruir os mistérios dos seus olhinhos miúdos que brilham e gargalham risadas de dendê e pimenta. Seu corpo : visgo, carne, relâmpago e desejo, fúria e febre de mulher, de vestido , de rendeiras costurando contos do mar, seu corpo é. Dividir as minhas frases que ficam querendo fim, umas nem tem, ela sabe, conversas bonitas que se fazem às vezes com a respiração e os olhos rentes: pupilas acesas em encontro, tudo isso é uma coisa que é linda. A comida, o sal, o café, o alho, a escolha da rota do acarajé ou das férias, o livro enfeitado com as letras que me escrevem cartas. </i><i> </i><br />
<i> É dela meus olhos, meu desejo , minhas cartas ridículas com palavras e desenhos esdrúxulos. É para ela que eu conto o medo da loucura legitimada pelos imóveis, pelos móveis. A vida simples nas cidades calmas e quentes, os becos, as vielas, os P.Fs dos bares de tantas periferias, os sambas de roda do centro, o livro novo do autor desconhecido, a palavra bruta dos homens de deus, a cerveja, o pesar das notícias de violência, a compaixão sentida pelos alunos, o medo das sementes do mal, a alegria da comida gostosa, do encontro amigo, a secura da academia, com ela divido o mundo visto, o espaço do guarda roupa, as dúvidas, o medo, a mansidão, a preguiça, o gozo.</i><i> </i><br />
<i> Meu intento de palavra e corpo é dela.Flor, obrigada por pela estar, tua presença é presente todo dia.</i></div>
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<br /></div>
Dilmahttp://www.blogger.com/profile/02265484919154276785noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3120497607637153602.post-41193713932019201962015-07-06T21:18:00.001-07:002015-07-06T21:27:17.614-07:00Bora ser feliz?!<br />
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Dias rasgados de sol, mesmo quando esfriou e no jornal deu que era a tarde mais fria do ano. De mãos agarradas no teu seio e na tua mão, adormeci sonhando desejo de amêndoas com avelã, respirando esse cheiro de coisa de comer que seu corpo emana. Um mar nordestino nos espera, as mesas e cadeiras e comidas esperam nossos sorrisos bobos, nosso silêncio diante do pôr do sol, diante das águas ineditamente vistas aos nossos olhos. Na gaveta , protetor solar, creme de pentear, sabonete líquido, cartão de memória, vestidos , calcinhas novas, sorrisos esperando a cidade nova, o itinerário do transporte público que desconhecemos, as ruas anunciadas pelo google mapas, a paz de teu sorriso Iemanjá dissolvendo qualquer coisa feia. Já antevejo teu corpo naquele vestido branco que tu deslumbrou num dia de samba, branco contrastando com tua pele queimada de sal e sol, minha boca já é alegria de te pensar dona dos meus olhos , perdidos no encanto de tua doçura bruta,eles brincam às vezes apartados do que te sai da boca, escravos da harmonia que teu corpo é,veem tontos de fruição e mistério tua dança no mundo.</div>
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Viver atenta aos teus passos no mundo, teus passos de quem carrega uma lua vermelha , assistir à sua luz dentro do corpo que faz ser quem é, escolher as cores e os panos que te cobrem as curvas, que escondem o que meus olhos gozam sob a luz do sol de manhã, entrando pela janela. Entrando pela janela ,descaradamente, o sol imperava afazeres domésticos, compras em açougues lotados ,em pontos de ônibus, em pontos de trabalho, enquanto dissolvidas no cansaço dos nossos cheiros nossos corpos preguiçosos: pernas enlaçadas, lençóis no chão, enquanto nosso tento tendia pela celebração das bocas, ungidas de sim, dizendo primaveras lilases nos ouvidos do mundo.</div>
<div style="text-align: justify;">
Minha Preta, na linguagem num cabe o pedaço de mundo bonito que nossos olhos mergulham, signos ordenados assim, entre vírgulas e pontos não dizem do dengo de manhã, da manha nossa de cada dia, nem do nosso encontro.</div>
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Nem Barthes nem Lacan, Manoel de Barros falaria melhor de nós, fosse preciso açucenaríamos um paralelepípedo, mas faremos mais, colocaremos uma rede verde para nossa varanda balançar nossa preguiça domingueira, nosso café preto de tarde, nosso encontro.</div>
<div style="text-align: justify;">
Um dia na nossa pousada no cu do mundo, deixaremos uma parede para o Manoel de Barros encantar outros casais, nela ficará assim "Esqueçam o que Lacan disse, Açucenem-se"</div>
<br />
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<br /></div>
Dilmahttp://www.blogger.com/profile/02265484919154276785noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3120497607637153602.post-42520943908957092852015-06-25T18:43:00.002-07:002015-06-25T18:43:34.103-07:00infinitivo.<div style="text-align: justify;">
Sentir com a língua seu pé bem feito e macio, contornar com a boca as curvas macias da tua perna, deslizar meus desejos nos teus seios duros e volumosos, nos teus mamilos esfregar minha língua, febre e gozo anunciado de teu sexo, tirar sua meia sete oitavos com a surpresa de um viajante que encontra uma ilha perdida e sente a vaidade dos olhos nus numa paisagem inédita que a retina não esquece, desenhar com meus cílios dançando sobre suas costas as intenções de quem, nua ,ver um mar e tem nos braços imperativos de nadar, nadar até a água acalmar os músculos.Entrelaçar meus olhos e meus dedos nas nuances ardentes de teu corpo todo e fazer do meu corpo encontro, na força acolchoada das nossas pernas unindo (nuas) a urgência que suas unhas cravadas nas minhas costas e e meus dedos enredados em seus cabelos exigem. Descansar minha cabeça na sua coxa e recuperar o fôlego sentindo o cheiro morno do teu suor na cadência abrasiva de teu corpo depois do gozo, sorrir mole lânguida e sentir o sal do meu próprio suor me saudar a língua que encontrou uma mar dentro de teu mundo-mulher que encontrou força e verso que nunca serão ditos porque é língua de sangue e nervo, é língua que virtualidade nenhuma alcançará.Procurar ,percorrendo sua pele , seu abraço e descansar nos seus seios mornos.<br />Dormir com o gosto do teu sexo na língua, com o perfume quente dos teus cabelos filtrando rosas para o meu sono, abraçar teu corpo sonolento do cansaço da dança que o corpo fez.<br />Dormir e acordar tua.</div>
Dilmahttp://www.blogger.com/profile/02265484919154276785noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3120497607637153602.post-70250199315747221222015-05-31T18:49:00.001-07:002015-05-31T18:49:38.725-07:00frigideira azul. <br />
<div style="text-align: justify;">
Nunca use coisa para começar um texto, é o que eu sempre digo para as turmas de ensino médio, é importante precisar o que se quer dizer, insisto. Pois bem, é sobre as coisas bonitas que ela me faz que eu queria dizer, e nunca será preciso (adjetivo e verbo) porque tem jogadas inacreditáveis dos meus sentidos, que fugindo à regra do óbvio ,veem na frigideira não a utilidade prática de fritar alimentos, mas um azul que se destaca lindo e envolvente com a pele morena dela, uma pele morena que inspira todos os dengos do mundo. Há detalhes de alegria no jeito que ela sorri de achar uma poesia que se chama "glutamato monossódico" , há detalhes de alegria quando ela toma minha palavra antes que essa vire som e manda a perversidade de um homem "se fuder", do jeito bruto e revoltado que só a doçura dela sabe responder, porque não é uma doçura plácida de adultos resignados é a doçura de uma criança que quer o primeiro pedaço do bolo de chocolate com recheio de cereja, e tem toda fome que só quem deseja ardentemente sabe da urgência. </div>
<div style="text-align: justify;">
O sono dela me prende os braços e eu insisto num sono que eu não tenho, porque eu durmo pouco, e vê-la dormir é menos vê-la que sabê-la, eu fico no silêncio do quarto ,escutando o barulho de mar que seu dorso moreno invoca, um dorso que impera nos meus sentidos, por onde eu passeio poros e dentes. Os ombros macios que são equilíbrio de minhas mãos tontas do gozo que o corpo quis e teve.</div>
<div style="text-align: justify;">
Fora do quarto, um turbilhão de afazeres, descartáveis e necessários, nos esperam : o preço pelo teto, pela luz, pelo transporte, a logística, a moradia , a casa grande que num é minha. Nessas horas em que o plano de cigana me salta aos olhos, nessas horas, ela entende meu silêncio, eu sei que ela sabe que eu queria prolongar a noite à luz do dia.</div>
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Ter um mar numa manhã de frio parece mentira. Ir na contramão do óbvio é coisa que acarinhada pelos olhos dela vira dança. Porque eu quero descansar da festa do seu corpo achando esses detalhes que sua presença traz, suas pernas nuas me contam de cheiros de pimenta e flor,de força e sal. Mais nu que meu corpo são meus olhos quando coberta de luz ela diz sim com a língua e com o olhar.</div>
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Meus sentidos vivem, vivem,vivem alegrias ora silenciosas , ora escandalosas que meu corpo ganha, às vezes dormindo, às vezes túmido de sim explodindo água.</div>
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<br /></div>
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Tua,Flor</div>
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Dilmahttp://www.blogger.com/profile/02265484919154276785noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3120497607637153602.post-32093883287650824582015-05-18T12:21:00.000-07:002015-05-18T12:21:08.050-07:00Porque. É porque com uns dias a mais eu vou ter tempo de comprar umas meias novas para vestir embaixo de meus vestidos coloridos, vou também finalmente achar aquele trecho de Memorial do Convento pra ler para você, vou procurar os cartões de memória de minha câmera e fotografar você vestida como uma personagem do Tarantino, do Almódovar, vou ficar atoamente perdida nessas suas sardas engraçadas, tenho uns silêncios longos carecendo desse seu jeito de abraçar que parece me apartar das coisas ruins.<br />
Eu prefiro silêncio à repetição dos números para comer, para vestir, para morar, para medir o sangue, a água. A agulha sempre pronta a apontar erro na contagem da dor.<br />
É porque com uns dias de folga , podemos ir àqueles sebos da praça João Mendes e encontrar gramáticas da década de 20, prefácios com dedicatórias usando mesóclises , e até marcadores de textos antigos contando histórias de casais apaixonados jurando amor e melindres dentro dos livros agora amarelos de tanto tempo passando do lado de fora da rua.<br />
É porque com mais tempo livre para estarmos de olhos irrigados da doçura que esses encontros dão, talvez dê tempo de finalmente assistirmos ao filme de Fellini,<br />
Na hipérbole das cores translúcidas das borboletas pouco vistas, no copo de vidro transparente e vagabundo com o gole de café preto que eu te levo de manhã para te acordar com minhas línguas e meus olhos tomados pelos seus olhos miúdos ainda sonolentos, na intenção dos gestos querendo encontro, na dilatação macia de teus músculos dizendo sim, na doçura das tuas mãos me invadindo a nuca, esses encontros sou eu dada à teu desejo intenso e contínuo.<br />
Se eu pudesse fundava um feriado hoje ainda para fazer o sol nascer a noite toda, pudesse, rasgava o livro de ponto, jogava fora os boletos, os números, cessaria a sintaxe frágil dos diálogos mal ditos e falava das paixões que alimentam as revoluções, pudesse, eu faria tudo para roubar você pra mim.<br />
<br />Dilmahttp://www.blogger.com/profile/02265484919154276785noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3120497607637153602.post-80717069658014466932015-04-03T13:58:00.001-07:002015-04-03T13:58:26.747-07:00De Cristo.<div style="text-align: justify;">
Eu não sei como é ter um filho, eu sei que dói ver homens vestidos de preto matando meninos "pretos de tão pobres". Eu sei que nas conversas nesse dia de sexta que feriadaram um assassinato e comungam a esperança na ressurreição , eu sei que ouvi de gente que tem dinheiro,tem o de comer e o onde morar ouvi planos para investir e fazer mais dinheiro e lamentaram a morte do filho do governador. De sangue ninguém falou, um menino morreu no Rio, um menino sempre morre na periferia, onde a polícia tão aclamada pelo povo quer número de presos de mortos e de homens pretos na estatística para fazer a segurança dos brancos que querem ganhar dinheiro.</div>
<div style="text-align: justify;">
Como foi que essa mãe aleijada por balas do estado comeu comida nessa sexta feira santa? Um menino morto desse jeito cruel e perverso trouxe pesar nesse dia em que a morte faz feriado.</div>
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Homens brancos e de oratória bíblica estão querendo mais números e matarão antes do corpo as almas dos meninos aprisionados aos dezesseis.</div>
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A limpeza nas mãos do que fazem as escolhas não escondeu de Blimunda _ olhos saramaguianos de ver_ os vermes estourando em pus dentro de tantos homens.</div>
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Como você que não sente mais pesar chegou a esse lugar de anestesia?Não te dói que um menino morra e que você pague a essa polícia para aleijar uma família? Por que teu nariz só sente cheiro de dinheiro?Você não vê o pus nos homens, o sangue de tantos meninos? </div>
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Hoje há pesar e dor pela morte de meninos e pela falta de almas sensíveis, há pesar pelos que encheram o bucho de comida, os sentidos de vinho e ordenaram que mais gente morra.</div>
Dilmahttp://www.blogger.com/profile/02265484919154276785noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3120497607637153602.post-91289575886815754612015-03-22T14:17:00.003-07:002015-03-22T14:17:51.724-07:00Estação.<br />
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Os livros de literatura abandonados pela minha cama sofrem o desdém do meu humor avesso às leituras programadas e precisas, porque hoje eu quero os cabelos dela entre meus dedos, quero mais do que sua saia com cheiro de frutas doces, mais que suas presilhas abandonadas no lençol. Essa ausência que tomou o quarto todo sem espaço pra eu deitar,comer dormir faz de meus beijos pedidos exagerados de quem não quer findar o domingo sem festa.</div>
<div style="text-align: justify;">
O corpo dela é onde eu quero morar, meu silêncio desesperado não que senão linguagem no calor da sua nuca, na quentura perfumada que as coxas dela têm, é mais que dança quando juntas no movimento de sins , na cadência das curvas, no deslizar da minha boca pelos seus braços pernas, é dança quando sua calcinha soando nota de sol maior encontra a pressa das minhas mãos desejosas de sua nudez, suas cores estampadas em pele e traço fazem do olhar um gozo precursor da festa que todo pedaço de pele seu encerra.</div>
<div style="text-align: justify;">
As coisas mais bonitas que eu sei eu quero do melhor jeito que sejam também dela. Aprender o corpo dela é presente, é festa. Nos dias de calor, nos dias de frio ,nos dias de prova, nos dias de ir ao banco, nos dias de ir ao mercado, nos dias em que ela está aparece até arco-íris, mesmo que ninguém veja e pareça improvável ter cor em dia cinza, mesmo que o mundo nos roube tempo, quando ela vem o meu mundo fica todo florido.</div>
<div style="text-align: justify;">
O tempo é uma Estação-Flor.</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<br />
Dilmahttp://www.blogger.com/profile/02265484919154276785noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3120497607637153602.post-65314255051108638182015-02-19T12:20:00.001-08:002015-02-19T12:20:43.349-08:00Feliz todo dia. Feliz Flor.<br />
<div style="text-align: justify;">
Moça pisciana bonita, feliz ano novo, feliz todo dia, feliz sapatos novos e vermelhos em liquidação,lançamentos do Von Trier, edições novas de coisas da Clarice, Feliz feriados em praias , pousadas, praças e bares pelo mundo,pela cidade,feliz artigo pronto, aulas lindas,livros do Foucault, Barthes , do Derrida ( um dia a gente vai entender o que esse cara disse rs, fé). Feliz noites e noites de ousadias porque sua carne é de carnaval, feliz vontades, feliz amor, feliz paixão, feliz vida na intensidade dos olhos, feliz feiras livres , feiras hippies, feliz cafés e capuccinos e bolos de limão. Feliz novos escritos sobre as mulheres, feliz pesquisa tão linda e pertinente que tu inicia, feliz teu corpo tão encontrado na alegria.</div>
<div style="text-align: justify;">
Feliz dias ensolarados e da sua cor preferida: azul. Feliz aniversário.</div>
<div style="text-align: justify;">
Com carinho e tesão dessa tua moça de leão .</div>
<div style="text-align: justify;">
Eu tudo você.</div>
Dilmahttp://www.blogger.com/profile/02265484919154276785noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3120497607637153602.post-77419187545401120812015-02-16T06:49:00.000-08:002015-02-16T06:49:43.159-08:00tudo é.<div style="text-align: justify;">
<i>Eu te tudo</i> é substantivo e verbo que não cabe na sintaxe ordinária, não é o tudo ou nada absolutista e cartesiano das ciências e das religiões. É antes, é parte privada da nossa fala, tem a textura da nossa pele junta, tem a combustão dos nossos perfumes, <i>tudo</i> é nosso encontro,é meu quarto com sua presença do travesseiro à esteira, <i>tudo</i> é seus colares fazendo companhia aos meus brincos.<i>Tudo </i>são meus olhos inundados de seu rosto, transbordando tua cara nas minhas pupilas aumentadas para caber teus olhos miúdos e indecifráveis. Meu <i>tudo</i> é derramado em você em suor, saliva, gozo,comida, <i>tudo</i> é a espera da minha cintura pelos teus abraços fortes, é a escolha do esmalte, da calcinha, da salada, do bolo, da bebida, <i>tudo </i>é o sim do verbo.</div>
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Não sei dos verbos nem dos pronomes conjugais, comungais nem se é de substância ou de verbo que o sangue vira filho.</div>
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Do <i>tudo</i> dito tantas vezes com olhos repousados no seu corpo antes de seus olhos se abrirem dengosos e famintos, eu sei. Do <i>tudo</i> dito quebrando o silêncio de quando você chora,eu sei. Do <i>tudo </i>dito quando você é só luz, luz,luz e parece flutuar, eu sei.</div>
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Do <i>tudo</i> cheio de urgência de quando você não está, desse eu sei mais ainda. Quando você não está <i>tudo </i>significa gritante aos meus ouvidos e vermelho aos meus olhos. Um silêncio de saudade toma minha boca e eu <i>te tudo</i> em cartas, mensagens,espera. Ajeito seus colares, descubro um casaco seu no meu cabide, leio guardanapo poetizada daquele dia de jazz na República, aprendo novas receitas, compro saias pensando nas suas mãos,leio poemas e você aparece dentro deles, faço café, gelatina, panquecas, procuro passagens, roteiros, procuro tuas mãos, procuro em todos os roteiros os teus sins. Eu procuro tua força estampada à agulha e tinta, e encontro, encontro quando você deixa, amolecida, meu silêncio tomar seu corpo em um abraço que quer a comunhão dos olhos que juntos constroem um mundo. Um mundo de transbordamento onde, abandonada a semântica ordinária que a vaidade alimenta, os corpos querem um incêndio sem ruínas nem feridos.</div>
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<i>Eu te tudo </i>é a parte mais bonita, mais dada, mais generosa, mais larga mais <i>fica comigo,</i>mais<i> você vem hoje? </i>Mais <i>você gostou desse esmalte,</i>mais <i>quando você está eu fico tonta de tanto te querer, </i>mais <i>você fica linda gozando, </i>mais<i> viaja comigo pra Paranapiacaba?</i>Mais <i>viaja comigo para Paraty? </i>Mais <i>você vai comigo? Eu tô com medo, </i>Mais<i> eu quero namorar você.</i></div>
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<i> Eu te tudo </i>é minha mão procurando a sua mesmo com medo da homofobia das cidades distantes, <i>eu te tudo</i> é a vontade de te ver realizando sonhos, é o desejo de voltar para o Hotel depois daquele sol nos abençoando em Itapuã, <i>Eu te tudo </i>também tem medo de você partir.</div>
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<i>Eu te tudo,Flor.</i></div>
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Dilmahttp://www.blogger.com/profile/02265484919154276785noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3120497607637153602.post-73271222201417828332015-02-10T12:48:00.002-08:002015-02-10T12:58:56.595-08:00viver.<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">Não foi o câncer, nem a soma de tantos anos juntas, nem os holofotes sobre aquele enlace, foi a declaração de quem ficou, triste e sentenciosa: "foi-se o amor da minha vida".</span></div>
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<span style="font-family: inherit;"> Os sentidos viram cilada quando um amor se ausenta pela eternidade, as roupas no guarda-roupa são a realidade palpável de que aquele amor existiu, andou e escolheu sapatos de cores sóbrias, não há produto de limpeza que dê conta do cheiro nos travesseiros e as músicas cessam, cessam. Um soluço será ouvido de madrugada e também às dez da manhã e o corpo cumprirá o ofício de lembrar o sexo, agora, tão carente quanto um homem em terra estrangeira pela primeira vez.</span></div>
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<span style="font-family: inherit;"> Apenas um prato sobre a mesa, um ingresso, reserva para uma,passagem para uma, todos os guias abertos no computador são de buscas pares, será necessário apagar o histórico e não comprar mais flores.Será preciso também evitar o tumulto alegre dos lugares cheios, será necessário não se matar.</span></div>
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<span style="font-family: inherit;"> Mas tudo é das dores imaginadas, no fundo, deve ser bem pior.</span></div>
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<span style="font-family: inherit;">É preciso viver,viajar e transbordar amor.</span></div>
Dilmahttp://www.blogger.com/profile/02265484919154276785noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3120497607637153602.post-80573491779328525022015-01-02T09:02:00.002-08:002015-01-02T09:02:48.405-08:00Janeiro.Calor e chuva saudaram o dia primeiro, e de tanta fé coletiva virou rito de passagem, e importa para os olhos voltarem-se para o que foram aqueles dias todos ditos ,agora, do ano passado.<div>
Cores brancas e desejos escritos em camisetas, no céu, nos olhos,nos beijos,acreditar é a ordem.</div>
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Eu desejo, mesmo,mais simplicidade para viver no mundo,porque não é simples não. Não ter ódio é um esforço de quem tem amor, porque quem tem amor é o tempo todo violentado pela ordem do mundo que é de guerra e morte, quem tem amor fica atônito, fica zonzo de como as coisas básicas da vida como comer , gozar,dormir, são tomadas à força por uma crença caduca que molda e amputa os direitos de quem, tomado o discurso, foi excluído de gozar seu próprio corpo, quem não come, quem tá na rua, quem tá preso por tijolo e cimento e vive o auge dos nervos encarcerado.</div>
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Há tanto sangue e lágrima na parte mais pobre da cidade, as lágrimas das mulheres que dormirão todos esses dias de ano novo no sereno,dos homens descalços.</div>
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Mas a simplicidade também é difícil quando há o desenredo do peito:as tensões familiares todas agudas como cólicas renais,há luto ,há silêncio, há promessa.</div>
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Que haja saúde no corpo e na linguagem,porque eu quero as coisas boas do corpo e da palavra.</div>
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Quero, de mãos dadas, de Flor, transbordar as coisas simples, comer, cheirar flor, cozinhar comida, pisar pedaços novos do mundo e estar, gozar o corpo no outro corpo, e nos silêncios que valem mil poesias dizer em abraço o que as palavras, cheia de conjunções,de predicações, mentem porque não alcançam, as palavras não sabem como meu corpo depois de tanto gozo quer dizer,nem como eu me sinto quando num instante curto, que minha memória fotografa, eu vejo uma mulher iluminada de gozo com o mar aos seus pés, com o mar entre as pernas. </div>
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Entender as espontaneidades das coisas que simplesmente são não é difícil, não há nada para entender é olhar é olhar e agradecer.</div>
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Há muita poesia no mundo, despir o olhar e gozar o mundo.</div>
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Insistir em ser,mesmo nesse mundo tão tumultuado e repleto de soldados do mal.</div>
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Não vou à guerra.</div>
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Apesar dos convites multiplicados, não vou à guerra.Não ir à guerra é tanto uma covardia como uma provocação,porque o sangue virulento dos que imprimem ódio quer comunhão, quer ver a calma com um facão cego na mão. Quem já não tem tento para se encontrar não quer senão confronto, conflito.</div>
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É uma provocação insistir na crença das coisas frágeis,como a rosa amarela morrendo na terra molhada, ou como uma rosa desabrochando alaranjada no meu quarto, é mais fácil apostar na guerra, o ódio foi racionalizado e legitimado como única possibilidade de acerto, são os que proferem "foi sempre assim". </div>
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Que seja um ano de saúde do corpo e da palavra.</div>
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Dilmahttp://www.blogger.com/profile/02265484919154276785noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3120497607637153602.post-3359690336861598112014-10-28T16:57:00.002-07:002014-10-28T16:57:35.467-07:00Iemanjá.<div style="text-align: justify;">
Vestida de branco, carregava duas rosas brancas e languidas do calor soteropolitano ,pisou na areia quente e branca, mesma areia em que pescadores pisavam,suados,testas franzidas e iscas esperando peixes, mesma areia dos cartões postais.O vento levantava seu vestido curto,balançava seus cabelos também curtos. Sua pele morena, suas mãos carregando rosas, os barcos quietos no mar,o cenário foi de azul-verde-mar,foi um delírio de luz , ali meus olhos nadaram livres, gratos,como quando um sol me invade.</div>
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As rosas dançaram no quebrar das ondas,Iemanjá lhe sorriu, eu sei, vi no horizonte.Areia, água salgada, pétalas dissolvendo-se na infinidade verde daquela manhã, sol pintando minha pele. Os pescadores curiosos adivinhavam a conversa das mulheres de água, apesar do olhar afoito pelo corpo de mulher, silenciavam, a fé na Rainha do mar, ou a espera do peixe, calava os desejos dos pescadores,e em paz seus olhos conversaram com ela. Nos pentes,perfumes e exuberância dentro de pequenos barcos escupidos em gesso leve repousavam os enfeites para agradar Iemanjá,lá seus olhos repousaram,emocionados do seu sal, brilhantes como aquele sol que brilha nas pequenas ondas , eu sorri e rezei uma reza de água,uma reza de sertaneja que encontra o mar pela primeira vez.</div>
Dilmahttp://www.blogger.com/profile/02265484919154276785noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3120497607637153602.post-47384488445372165462014-10-06T13:31:00.001-07:002014-10-06T13:42:38.114-07:00A fragilidade do olho que vê.<div style="text-align: left;">
<span style="text-align: justify;"><span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"> O medo pode minguar a lua prometida,na fundura de um coração alheio ruínas podem ser obstáculos de cimento e pedra, mas na sabedoria do gozo um encontro se faz mar, não sem o medo do ímpeto de uma cismar maior acumulando cinza sob castelos pisados de talco e mantra. O cheiro de cravo e açúcar cozinhando um coração nu e recém-nascido ,impropérios de uma carne virgem de unção e rito pulsando a espera das horas por um sim que nunca mentiu a carne crua de um carnaval às avessas.Um olhar move um oceano e destrói cidades ,mesmo distante,erguidas sobre festim e bálsamo. Arrancar uma janela da tua casa e levar seus medos para terreiros pagãos, festejar num balão a vontade de voar, desesperar nas tuas mãos as dores que o mundo me cingiu nos olhos ou ser silêncio e olhos querendo teu corpo como um corpo carente de pão,água e palavra, comer as nuvens nos signos que tua língua enreda, ser ouvinte do teu canto de sereia, nas alegorias vistas e revista ,deixar que seja tua palavra pão e água do meu corpo. </span></span></div>
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