quarta-feira, 24 de setembro de 2014

mãos

O meu mundo está feio
O meu olhar quer cair nas tuas mãos,essas
mãos que tricotam lã
e verbos
misturam temperos
escrevem artigos

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Repartida

                        Deixou os filhos com o marido bêbado, burguês e bruto e fez as pazes com o vento. Chorou pelo destino de Laura, a mais nova, Ricardo, mais velho e já bruto, adolescia sob um cara ossuda semelhante  à figura do pai. Helena abortara duas vezes no último ano, uma viagem para um congresso e depois uma noite de sexo com seu melhor amigo,tudo retalhado pelo medo. Rasgados os sonhos e repartidas as responsabilidades,a culpa foi convidada a se retirar.
                 Quis trocar as roupas ,trocar o corte de cabelo e o andar, e assim fez. Curtos e claros substituíram longos negros, e seu batom vermelho virou o imperativo de sua boca. Não foi simples, como tudo que Helena vivera, foi de sangue, medo e pulso.E assim numa quarta-feira de manhã depois de deixar Maria na porta da escola,ela soluçou dois dias e viajou para um país onde a língua não lhe lembrasse os signos de seus estigmas e quando acordada sob o pôr do sol de um país estranho chorou nos braços do mar, todos a chamaram "louca" numa língua que lhe soara mole,ela amou o desconhecido e deixou em Laura e Ricardo novo signo de mãe, arrancou as algemas umbilicais e foi e deixou viver.