quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Festa - por Adilma Secundo Alencar.

Dançam em pele
O passo anunciando desejo
Escorrendo desejo entre os dedos
Entre as coxas
Os olhares nus incendeiam de desejo os tímidos da sala de estar
Não fazem sala
Fazem festa

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

sereno.

Tua língua é metáfora enfiada no meu ouvido.
tua pele é desaguar ,enxurrada alagando instinto.
sina e canto de samba.
o sereno convidou Maria para dançar.
as pernas tão comoventes quanto os olhos
me conduziram por cadências nuas,nuinhas
fiando gosto de madrugada e terra
gemendo silêncio de marés
abri os olhos e Maria,nua como como meus olhos,
Maria me disse indecências e atou minhas mãos  às dela, só com o olhar.


sábado, 19 de outubro de 2013

Plantação de nuvens alaranjadas.

Arranhões que suas unhas fizeram no céu da cidade
Pétalas lilases não são signos, são grandes olhos
Um prato  forrado de gritos sem nome
Retalho da sua nudez 
Ressaca de seu perfume
Pra te ver passar ensaiei esse silêncio de flores amarelas
Jardim, mãos e todas as dúvidas do mundo 
Uma plantação de nuvens alaranjadas despindo minha calma
Esse luar prolonga seu corpo de ontem para amanhã.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Último Reclame - por Adilma Secundo Alencar.

Perdoe-me, será meu último reclame. Onde mesmo você escondeu meu riso solto? Diga-me. Eu comprei pera e porque você não está? Eu não gosto de peras, você ao menos deveria ter levado junto com suas meias vermelhas esse cheiro de maracujá que invadiu a tarde, eu não vou mais resmungar, sua ausência me deu dez anos , eu fiquei feia. Eu evito as bancas com flores porque já não há quem cuide delas. Desisti de ter uma menina, você sabe que eu amo crianças, você sabe que dói ver tudo caindo, eu não sei chorar no ombro de amigo,ando devagar porque minha pressa já não tem razão. Quando você soltou minhas mãos eu comi estômagos, cabeças, vísceras, olhos, peitos, falos, fígado, eu continuo com fome de borboletas. Eu tenho uma escrivaninha azul , eu me sento no final da tarde e choro ter perdido seu amor e seu endereço, porque descobri uma autora pernambucana que tece versos com gosto de mangaba, eu ainda escrevo cartas bonitas e guardo minha saudade em gavetas com cadeado, não conto pra ninguém desse amor que é seu. A loucura, o desespero e a melancolia não cabem na minha rotina. Meus reclames são de desespero. Quando você vai me devolver à primavera? 
Devolva meu riso e leve sua escova de dentes.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Agora eles dois vão ter um lugar só deles, ele vai aprender a cozinhar e outro prometeu lavar a louça depois de assistir ao jornal. Todos as manhãs vão ter um ao outro e vão agradecer o encontro com silêncio. O mundo está cheio de gente,mas não é sempre que alguém se demora dentro de um outro olhar, que liga para saber se você conseguiu aquela nota na disciplina de metodologia ou que resolve comprar o álbum de sua cantora preferida só pra comentar a faixa cinco, que sabe que verde é sua cor favorita e que você adora manga, e tem preferencias por palavras assonantes, sabe que carinhos nas costas apagam até dias de transito e chuva ou que sua palavra preferida é a palavra ternura, sabe que você nunca vai chorar em público ,mas seca seu pranto mesmo assim, seca seu o pranto com um punhado  de piadas fora de hora e de doce de leite no meio da madrugada, e sabe tirar seu olhar dos classificados, dos boletos, cobre suas pernas em noites frias e chora se você estiver triste, a compaixão é cheia de dor, é cheia de coração, eles serão felizes e doloridos.Terão sempre as mãos cortadas porque as rosas do jardim deles é a rosa mais bonita que se vê na rua. Eles teem muito amor, e por isso choram.

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Uma estrela na sarjeta, entre a Peixoto Gomide e a Frei Caneca. Um punhal fincado no calcanhar.
Hemorragia de lantejoulas cintilam intenções floridas.
Deu na TV que amanhã o sol vai raiar, que as arraias do oceano pacífico estão morrendo.
Ninguém falou do homem transvestido  de estrelas que matou signos militares e agora sangra cores quentes na cidade cinza.

quinta-feira, 25 de julho de 2013


Eu arrumei meu quarto para você, limpei os farelos de pão sobre o meu colchão e troquei a fronha de meu travesseiro.
Passei batom vermelho quando fui encontrá-la pela primeira ,pela segunda e também em todas as outras vezes.
Poderíamos, se quiséssemos, viajar pelo norte do país, ou de repente comprar bicicletas com cestinhas para trazer coentro da feira, ou levar livros para a praça.
Sua mãe poderia gostar de mim e você talvez gostasse de meu silêncio e eu compraria um buquê de flores azuis ou cachecol verde para combinar com seus olhos aguados e cristalinos.
Faz muito tempo que Maria deixou minha casa, mas pra todo mundo eu digo que ela está, que ela dorme comigo e conserva meu coração em azeite .É mentira. Minha solidão é um doce,menina,é um doce.Dá medo vê-la assim derrubando tantas cercas enfeitadas de cactos.Você talvez perceba o quando eu derreto , meu quando vai engolir suas vontades, um dia sem saber eu roubo você para os meus desenhos de lar.
Arabescos de seus cílios sobre meu umbigo já anuncia sua morada. Vou jogar seus brinquedos pela janela e forrar sua cama com folhas amarelas cheias de frases  de Neruda.
Eu não vou deixar os papéis prontos, tudo será eternamente branco antes que você toque essa gaita transparente cheia de fonemas de sua língua de amor.
Se quiséssemos ,seríamos um caso sem solução.
No verso da nossa língua decretar aberto os corações desesperados ,cansados, puídos, ralos.
Em mel , em sangue , em neve, fazer festa no meio do nada, cuspir as memórias que não alimentam.
Oferecer meu coração, esses calos no olhar e meu encantamento bobo pelos seus gestos , seus zêlos, seus sumiços, por essa beleza vadia que seu rímel destaca.
Não vai,menina.
Não vai.

domingo, 7 de julho de 2013

Espera,amor.

Quis meu coração, 
inútil, mofado
cheio de espinhos.
Eu fiquei com vergonha
E se não funcionasse mais?
Fez um laço no meu vestido 
Lavou a louça e sorriu
Não ouvia minha conversa com as margaridas 
que balançavam soltas na janela da cozinha.
Acreditava,eu sei, acreditava que meu desespero era amor,
Quando era espera.
O olhar perdido era só vontade de explosões
De mar na boca da noite
Um vislumbre ,uma graça entre um talher e uma alface
Entre seu jeans e minha saia
Esperávamos duendes pulando a janela trazendo flores,
Fazendo sol com as mãos,
Era o rito.
Era espera, amor.
Espera,amor.

domingo, 2 de junho de 2013

Dadaísmo de bar.

Colarinho,copo e boca.
Mesa,coxa,tesão.
De Caetano,de lado,de gole em gole.
Sorver Bob Marley e arrotar Foucault,cuspir um conto num canto do bar.
Bruta Flor que forja a rima por cima do muro do óbvio.
As cores de Almodóvar ou as saias,ou as cintas, os caminhos das mãos, os enfeites das orelhas, dos olhos, dos ombros,dos lábios.
Veste a roupa e passa por cima do filho,do marido,da minha colcha de retalhos.
No bar de sempre deitou a memória de ontem.
A toalha de mesa,os ditos ao pé do ouvido,a vida além do livro de ponta, da ponta da caneta,da pasta de dente.O pasto das gentes.

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Pernas, café,lençol, filme, música,mantra.
O frio , o fim de semana, chuveiro quente, maracujá, xampu.
Tênis, caneta compacta azul, livro de poesia, panfleto do cinema.
As cores escorrendo, o peito pulando de amor anônimo, o olhar desviando da dor, os nós, a noite, mesa,bar,comida e palavra, carinho e feição .
Maria mudou de casa.
Agora, uma palavra me tomou o corpo e engravidei de mar, o mar serenou no peito e amanhã vai ser de brisa,brisa de mulher e mãe, eu comi estrelas , eu comi estrelas.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

lápis com borracha na ponta
riscos
lá menor
flamboyant
chuva
encandear pequenos gestos: mão e cintura.
ganhar o espontâneo: divinare 
segurar sua mão e não soltar.
cuidar da doçura
geleia de acerola
chá e mel
pão
manhã
manhã
manha.


quinta-feira, 16 de maio de 2013

Golpe da nuca
Açoite vadio de tua libido
Entrei, afoita entre flores baldias
Espaço nu de teu peito,palco de rua teu desespero e fome de mar
Volto, vingando a saudade arranhada entre teus gestos.
Crua, essa pressa de morrer , esse gosto de manga precipitando minha língua na manha de teus ais.
Enquanto  é mais mar que cruz,impere.
Enquanto profana, inflamada...a ardência das primeiras palavras nossas!

domingo, 14 de abril de 2013

Seria o desmantelo
rastro
ÍNGUAgem
luz,lá fora
raio, aqui dentro
unha e sílaba
poente e poste

nudez descarada
da vida
dá.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013


Sobre o transbordamento.

Ela abriu a porta do apartamento, o zíper do jeans, um sorriso de ninfa. Foi numa manhã de sábado que ele guardou seu telefone.
Ela usava caneta vermelha, escreveu seu número embaixo do umbigo dele, assim fora guardado.
E ele que andava exibindo uma cara grave que nem dele era, cumprindo prazos que nem sabia o motivo.
No último domingo comprou papel de carta, caneta compacta preta, como ele gosta, para escrever para ela.
Se sentiu tão bem. Tudo que sabia dela é que ela joga sinuca, pois essa era a mesa da sua cozinha e também a cama, sabe que ela é leve e desliza carinhos pela pele.
Ele falou pouco, como de costume, afinal era só uma desconhecida e talvez, pensa agora, sua carta nunca encontre endereço.
O fato, pensava, é que há sorrisos por aí, para limpar o olhar,para livrar o corpo da roupa arrumada.E por instantes brilhantes,entender que a função nobre do corpo é dança, carinho; sagrado e rotineiro como nos relacionamentos longos.
Serenos e dionisíacos, das paixões fulminantes e tempestuosas, ou efêmeras e felizes nos encontros do acaso, numa manhã laranja.
Ela lhe disse que gosta de ler artigos de ufologia. A moça tem uma cara bonita e iluminada.
Ele viu frases em francês escritas com caneta permanente na porta do banheiro.
Não trocaram telefones, só sorrisos e abraços.
Ele reparou nas frases Nietzscheanas nas coxas dela, nunca vira antes Nietzsche tatuado em coxas tão bonitas.
Naquela madrugada, ela fumou maconha e disse que o dinheiro corrompe o amor, mas o sexo ainda é livre.