quinta-feira, 25 de julho de 2013
Eu arrumei meu quarto para você, limpei os farelos de pão sobre o meu colchão e troquei a fronha de meu travesseiro.
Passei batom vermelho quando fui encontrá-la pela primeira ,pela segunda e também em todas as outras vezes.
Poderíamos, se quiséssemos, viajar pelo norte do país, ou de repente comprar bicicletas com cestinhas para trazer coentro da feira, ou levar livros para a praça.
Sua mãe poderia gostar de mim e você talvez gostasse de meu silêncio e eu compraria um buquê de flores azuis ou cachecol verde para combinar com seus olhos aguados e cristalinos.
Faz muito tempo que Maria deixou minha casa, mas pra todo mundo eu digo que ela está, que ela dorme comigo e conserva meu coração em azeite .É mentira. Minha solidão é um doce,menina,é um doce.Dá medo vê-la assim derrubando tantas cercas enfeitadas de cactos.Você talvez perceba o quando eu derreto , meu quando vai engolir suas vontades, um dia sem saber eu roubo você para os meus desenhos de lar.
Arabescos de seus cílios sobre meu umbigo já anuncia sua morada. Vou jogar seus brinquedos pela janela e forrar sua cama com folhas amarelas cheias de frases de Neruda.
Eu não vou deixar os papéis prontos, tudo será eternamente branco antes que você toque essa gaita transparente cheia de fonemas de sua língua de amor.
Se quiséssemos ,seríamos um caso sem solução.
No verso da nossa língua decretar aberto os corações desesperados ,cansados, puídos, ralos.
Em mel , em sangue , em neve, fazer festa no meio do nada, cuspir as memórias que não alimentam.
Oferecer meu coração, esses calos no olhar e meu encantamento bobo pelos seus gestos , seus zêlos, seus sumiços, por essa beleza vadia que seu rímel destaca.
Não vai,menina.
Não vai.
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Explodindo de beleza.
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