segunda-feira, 30 de abril de 2012


Maria



              Quando o instante é uma possibilidade de êxtase. Ao seu lado a vida era uma tensão, uma vibração, um peso possível, porque seu olhar ainda queria minha calma em seus movimentos. Maria, eu sou um caos, não obedeça aos meus pedidos, continue impossível, eu sou um caos, tenho mais amor que desejo, mais silêncio que verbo, senti seu perfume num corpo alheio, achei graça da piada que o destino me prega, achei a minha ausência sob as luzes coloridas, minha mão ainda não alcança seu signo.
            Volte, não me queira, não queira acordar comigo, não durma Maria, pegue suas coisas, você não entende minha febre, já não mata minha sede, na geladeira, sua geleia não combina com o resto, separe o amor do sexo, Maria, não seja burra, prefira o sexo, não seja eu, saia, não queira ver o princípio de uma ruína, o mundo é um, a possibilidade está nas pessoas, não me olhe sem me ver, não alimente absurdos a meu respeito, durma com outras pessoas, se saiba, Maria, não me dê notícias de ontem, e devolva minhas chaves, não importune o amor que ainda é seu, me deixe ser um absurdo, em silêncio eterno, hesitante em conflito, não diga palavras que me caibam, suje seu corpo Maria, não finja pureza, a linguagem é fruto da violência, é absurdo dos sentidos, o tesão é a calma, o inferno simbólico é a chama, eu rompi com seus signos ,eu queimei suas esperas, me expulse do seu inferno para sempre, Maria me condene à impossibilidade da vida longe do teu colo, há a possibilidade de vida absurda e vil...Maria transe com a cidade inteira, não diga bobagens, diga imperativos Maria, todos ficam lindos em seus lábios quentes, impere Maria.

domingo, 29 de abril de 2012

Eu sou um lixo.


                        Quero dizer que eu sou um lixo, um lixo não merece um texto, mas escrevo assim mesmo, a internet  também tem lixo, eis aqui um espaço sem corpo, tão difícil ser, tão difícil o  amor, como se dá amor? Eu morreria por essas pessoas que amo, amo, amo, mas como magoam às vezes,  eu não sei amar, não sei,  porque quando penso que sou a hipérbole do afeto, me interpretam com a frieza de uma estátua grega,  distante e imparcial. Eu não entendo o mundo, eu vou me calando, sucumbindo, talvez eu vá morrendo de algum jeito, mas me cortam  algumas palavras , vou chorar algum tempo, e ficar sem verbo, porque são verdades de outros, são facas, eu não posso fingir que não são facas. São sim, facas, me cortam, eu não sei devolver ,não me peça palavras que eu não tenho, querem mentiras que eu não sou, isso me torna vil?...Meu amor não vale nada? Eu preciso dessa merda de rótulo ,de discurso para me respeitarem, eu não sei como não desistir, eu não sei. Eu não vou cobrar,  não quero comunhão de pensamento, é tão agressiva uma cobrança que  repele a natureza do que eu sinto, penso e faço...Porque essa mágoa toda? Eu preciso tanto sumir, quero medir meus  gestos, é injusto, isso me corta, você me cortou, quando o abrigo cai,  sem colo e sem teto , porque ruir assim as relações? Eu sei que sou cheia de defeitos, mas onde eu achava minha fortaleza você chama de covardia,a serenidade que eu cultuo é medo? Estou um lixo, sou a construção de uma ruína, paradoxal? paradoxal  é descobrir que não estou construindo nada, não estou construindo nada,nada,  eu acredito nas pessoas sim, qual o gesto que me traiu? Sou vil, sou , não mereço mesmo crédito...você tem a razão, o que eu sou diante dela ?
                    O que me explica? Eu não quero agredir você, vou escrever , nesse espaço de ninguém, eu não posso seguir esse roteiro, eu estou tentando me encontrar ,mas ninguém ver, estou triste como o cão e ninguém ver, a simulação do medo, eu queria um abrigo que não me machucasse tanto, puta que pariu , eu cansei de ser forte, cansei, ninguém ver o quanto me custa, a pseudocalma é  instrumento de não magoar mais ninguém, esse desentendimento todo dói. Quais as ferramentas necessárias para o entendimento de que eu também quero ser feliz, é difícil olho para o outro quando se está fraco, eu nãoquero magoar ninguém, eu escrevo ,eu estudo, eu estou muito cansada desse mar de mágoa, a “terceira margem do rio”  não existe, existe a rotina, o “ todo mundo correndo atrás” a infelicidade reinando, puta que pariu, eu cansei, cansei  mesmo, eu não consigo , não sei impor para você o que eu acredito, acredito só na diferença e no estranhamento, qual a possibilidade de felicidade nessa violência toda? você me violentou, me sinto vil, menos pelo que você me cobra do que por como você me ver, era amor, eu também quis ajudar, sucumbi, vou morrendo, mas ninguém perguntou, todo mundo quer salvar o mundo, com síndrome de santo, eu sou um lixo, nem reze por mim, me perdi nas intenções, sou mesmo uma merda de filha, de gente, sucumbi mais  e mais e mais.Eu não sei, não quero mais tentar, não quero, quero ficar quieta.

quarta-feira, 25 de abril de 2012


                      Quero tanto você aqui, deslizando no meu corpo devagar, me derretendo sem pressa, sem prazo pra saber meu nome, minha língua descobrindo seus sabores, seus sons, minhas mãos dançando em seu corpo, sobre todos os sons que te enfeitem de amor, de violência, de delicadeza, de laços, lances todos pra você, pra você pra mim, sua língua me trazendo para o dia, para o sol, o céu, o inferno, suas cores queimando meus sentidos, surpresa de você assim  nas primeiras horas da manhã, com corpo morno acordando de prazer ...meu corpo solto sob o mesmo lençol ...perdida na sua nuca,no seu nunca, afago de corpo, me perdendo na sua boca, nos seus becos, nas suas vontades que são todas minhas.   
                   Eterno cio, eterno ciclo de minhas vontades nos seus lábios , sua febre...me dissolver no seu corpo, na sua sede, na minha espera, no tato , na nuca  , na curva macia de seus movimentos, naquele frescor de primeiro suor, gozar todas as hipóteses possíveis, sobre e sob o seu, só o seu corpo, enquanto tesão único eternizado em cada poro de prazer ,de suor , de sal, de língua...orgasmos, orgasmos, orgasmos  de você , repetições ininterruptas das    minha vontades  em língua , você...morrer meu cansaço impossível , meu cansaço impossível, liquidar-me liquidamente, mente líquida... Meu orgasmo, gozarei platonismo em seu  suor...

sábado, 21 de abril de 2012

Encarnação das vontades


              Você talvez goste das  novidades  que preparo para você, estou juntando dinheiro para fazer um curso de marcenaria, você vai achar incoerente, porém logo saberá que eu sou muito incoerente e exagerada. Quero fazer uma estante linda, sem usar verniz , porque eu amo cheiro de madeira, eu vou deixar sempre em cima da estante, um livro de poesia aberto, numa página suja de café, com poemas para cada dia seu, vou ler meio sem jeito, quando você aparecer, tomara que você goste. Quero  aprender um pouco de latim, assim que eu comprar meu dicionário epistemológico, vou dizer pra você a origem de todos os verbos pornográficos, sei do substantivo “pornografia” é grego , e se me lembro, é porné; simplificando: vem de putas( isso ficou cacofônico e consequentemente ambíguo), vou sempre simplificar, nunca farei discursos sobre sentimentos porque me atrapalho toda.
       Mas quero tanto  fazer os meus móveis, e você pode pedir o que quiser , deixo você  usar minha estante , tomara que  você tenha paciência para minhas angústias TPêmicas, porque eu fico com uma saudade de casa, de nadar , de ser irresponsável, mas passa, sempre passa, também fico estranhamente quieta, mas passa, na maioria das vezes estou pensando em você, de forma egoísta, te querendo, como se querer resolvesse alguma coisa, só um traço de coisas óbvias, no mais quero dizer da minha vontade de fugir, pode ser só do meu quarto, quando tenho tanto para ler, eu gosto muito de ler, estou investindo em coisas que não vão me dar dinheiro, mas conheço pessoas incríveis, e é bom tomar café com pessoas assim.Quero muito escutar sua seleção de músicas “corta-pulso”, será que você tem uma?.Eu tenho, gosto das músicas que fizeram antes de eu nascer, e também das que fizeram semana passada e ninguém conhece.
            Você poderia encarnar minhas vontades, então agora, eu  faria café para duas pessoas. Hoje faz uma tarde linda para você existir, eu até arrumei os meus livros e minha cama. Mas enquanto você não aparece deixo meus livros povoarem minha tarde.
         O Pessoa, a Ana Cristina. Um dia teremos tempo, teremos encarnação das vontades, dos discursos, sobretudo do discurso que lhe tenho.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Quase nove anos sem seus olhos querendo que eu chegue mais cedo. Seu olhar é a coisa mais terna que já encontrou o meu . Essa dor do seu olhar me desespera, me desespera. Meu plano de ficar perto não deu certo ainda, quantas lágrimas inesperadas foram separando a gente. Nem com muito esforço teríamos imaginado esse cenário todo. Esses muros de sal afastando a alegria. E hoje qualquer data cristã, que para a senhora representa a alegria (resignação) , é choro, lamento e solidão, e para mim, a exposição de minha impotência diante da violência do que “É”, a afirmação das coisas é sempre maior que a nossa vontade, mas como lhe dizer disso? A senhora que sempre plantou o amor e a bondade aos moldes cristãos, sem nunca questionar nossa falta de tudo,quando sonhar era pecado, porque era impossível ou difícil demais, e quando crescer era um fado, um fardo sem descanso ou mudança. Quando tive o olhar mais maciço , cru, orgânico, eu soube das correntes que o “amor “ prende no pulso, no passo. Essas correntes aqui nos meus tornozelos me cansando o corpo, me tingindo o dia de sangue. É impossível ficar indiferente às suas lágrimas, sua dor. HOJE, ser MÃE é a coisa que mais lhe dói o corpo, a calma, molham seus olhos de sertão...e me deixam triste, triste e impotente!!!

domingo, 1 de abril de 2012

“Desenlacemos as mãos” , você disse. O mundo mostra um ninho de amor em todos os corpos, um jeito de morrer em cada copo, um alívio em cada gole. A felicidade é coisa sem casa, é anômala , nômade, é pedaço de pão, cortina aberta, zíper aberto, pés descalços na cama, mãos calmas e quentes, café com palavras e carinhos, vidros colorindo o quarto, criança vendo a lua...A felicidade já foi seu corpo cheio de tesão, já foi sua raiva, já foi minha força no seu cabelo, já foi sua sombra, minha sobra. O mundo engole nossas vontades e cospe qualquer coisa parecida com alegria. Farsas e farpas por vezes machucam meu peito já forte pelo tempo. O Sereno me levou à descrença dos bares. Recusei. voltei a minha solidão de café, letra e Marisa. O mundo é mais que esse bloco de aço que desfila sem melodia. A substância é a hipótese líquida de ainda EXISTIR gole de vida, saliva de afeto, semente de girassol . O tempo é a possibilidade, é a porta. O tempo É O PARTO. Me parte em possibilidade de CARNE, de sangue, de GENTE dentro de casa, de poesia às 3h da madrugada, sob a lua cúmplice . A VIDA AINDA ANDA, INSISTE NUA, LOUCA E LINDA MEU CARINHO HESITANTE.