sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Último invento

Inventei uma ilusão para me salvar do duro isolamento que me cerca, todos exaustos pelos estímulos.

A minha ilusão gosta de bossa-nova e também de blues. Quase nunca dialogamos. A conversa nos deixa cansados, durante horas brincamos, inventamos nomes possíveis. No último encontro eu era um espião argentino casado com um árabe terrorista e ela vivia com um banqueiro depressivo e velho.

Adoramos ler poesia juntos.Descobrimos o Bandeira, embaixo de minha cama, nomeamos nossa casa: Parságada. Eu não sei o nome dela, mas se soubesse ainda seria ilusão: Maria Ilusão, Ana Ilusão, Margarete Ilusão, Débora Ilusão.

Os olhos de Ilusão são incríveis quando entram nos meus, eu esqueço das minhas máscaras, acredito só nas dela. Ela tem um colar amarelo, de sementes de açaí e quando chove ela faz brigadeiro e ler contos para nós dois.

Eu fiz um poema para ela que diz: " Não fosse você eu seria fumaça, não fosse você eu seria um estranho, não fosse você eu não seria".Ela me retribuiu com um olhar terno, um abraço eterno e o corpo lânguido.

Palavras são pequenos gracejos, são raras da gente usar. Falamos a linguagem epidérmica, a única possível de acerto, de harmonia.

Enquanto ouço o barulho do chuveiro já adivinho o sabor dos seus poros. Ela é perfeita porque assim a inventei. Quase nenhum pensamento, totalidade sensível, sinestésica . O seu único problema sou eu que vivo recriando-a sem nome, sem identidade e sem consciência de mim.

Eu a amei, a trai, me perdi nos braços alheios, ela nada sabe. É minha criatura, vive só em Parságada, come apenas brigadeiro, bebe apenas poesia e só ama a mim. Assim a criei.

Eu sou egoísta, excêntrico e alheio, por isso criei Ilusão, alguém que me quer bem, o mundo quer gente pronta, sentimento-miojo. Eu estou crú, estou nú e sinto vergonha do meu sexo nesse mundo tão plástico, vestido elegantemente. Sou crú e tenho medo, talvez minha Ilusão me salve ou me mate, certamente seu potencial é ambiguo.

sábado, 10 de setembro de 2011

Um pouco do meu caos






Quanto vale o quilo do afeto? Ninguém pegou o Kaddaf....Os ditadores serão aniquilados.



Talvez anunciam o preço de uma lágrima, o espaço de uma fome, a solidão de um amor ou o fim da guerra. Os ponteiros quebrados da minha memória estão parados no momento da sua chegada. Toda palavra é um brinco, uma pulseira, um vestido florido enfeitando tua presença num piquenique com cheiro de grama molhada. A lágrima pesará tanto quanto o primeiro sorriso da manhã e o calor do seu abraço meio sem jeito depois de uma briga.



" Faríamos diamantes de pedaços de vidro" eu teria um filho seu, ele teria seus olhos e meu olhar e talvez vivesse pouco mais de uma tarde; nos nossos sonhos, telas de Salvador Dalí derretidas em meio à verdade que você nunca suportou.



No ponto de ônibus, de partida , de bala, de interrogação, um assalto à sua intimidade. Pegue suas armas, facas entre os dentes, língua salivando raiva e por humanizar Deus criamos o pecado.



O fim sempre esteve no primeiro beijo, o laço , a fita, a pena pela lucidez, o dia , o girassol sempre sabe, por consequência, por humanidade nos inquietamos dos laços.



A arte é minha amante preferida porque não nega sua máscara, orgulha-se de ser uma mentira ,também e por isso viver excentricamente é uma forma de salvar-se da alienação e é portanto alienar-se com personalidade , é claro, poder escolher uma máscara antes que esta nos escolha.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Insones, assim foram minhas noites antes dessa certeza inacabada que é o teu sexo sem promessas e antes da carne sintonizar o riso já era certo, o amor já era um caminho reto feito de desvios sinuosos, tudo à sua meneira mais fria, e se o cheiro de fumaça me deixasse talvez sacasse um cheiro de madeira exalando de tua calça enquanto me precipitava com as mãos nas suas costas. Os pés já não tocavam o chão quando o amor se fez carne. Santos, livros e patuás caindo da sua mesinha de cabeceira tão própria ao cheiro de incenso. Quebrei uma xícara enquanto sentava, a música eletrônica desconcertava o mosaico religioso e místico, eu pensei que sua orquídea tivesse olhos tão vibrante era sua matéria.


Eu corri, eu olhei as ruas e peguei o caminho que me pareceu mais seguro, meus olhos não tinham as lágrimas que só descem no chuveiro. Eu voltei novamente pra minha caverna platônica, porque só as sombras me fazem alegre, as brincadeiras sensoriais são só sedativos na minha chaga, chama eterna de inútil fazer. Fiz miojo e dormi.

sábado, 3 de setembro de 2011

Sobre ser só

Quando beijamos, transamos, chupamos e mordemos alguém com cumplidade e tesão cheios de eternidaede, isso ,de fato, nos faz fatalmente fiéis?, eu não acredito em fidelidade, e isso não quer dizer que eu não acredite em amor..pra mim o amor é a única coisa que nos justifica. No entanto amor não precisa de rótulo, quando eu acreditei no amor, meus rótulos se desmancharam e eu achei lindo porque eu nunca acreditei em sensatez e linearidade, e finalmente alguém me despia das roupas que eu nunca havia escolhido. Hoje eu tenho muito amor sem nome, uma gratuidade de sentimentos urgentes esperando parada nesse mundo besta e fingido. Eu tomo minhas possibilidades em todos os botecos sujos e cafés cults da cidade-tudo. Vi um filme tão bonito "A viagem de Lúcia", um senhor ao meu lado falou do livro que eu carregava, mas o filme começou e eu me encantei de ver como: Os corpos se entendem sem a gente, afeto e contrato não andam juntos ( na verdade,mal se conhecem), na maioria das vezes o que precisamos é de olhos nos olhos e simultaneamente corpos em sintonia, claro,.Que merda isso está parecendo livro de auto-ajuda, me disseram que a única auto-ajuda possível é: técnica masturbatória. Mas eu acredito no poder de catarse de toda a arte e do poder de eternidade de todo amor, só amor, sem pudor, crises, frescuras, falas, casas e CONTRATO........O amor ainda pode subverter... ainda acredito, porque meu amor vive, na minha língua , no meu lhar, no meu gosto e essencialmente em minhas intenções.