Sobre o
transbordamento.
Ela abriu a porta do
apartamento, o zíper do jeans, um sorriso de ninfa. Foi numa manhã de sábado
que ele guardou seu telefone.
Ela usava caneta vermelha,
escreveu seu número embaixo do umbigo dele, assim fora guardado.
E ele que andava exibindo
uma cara grave que nem dele era, cumprindo prazos que nem sabia o motivo.
No último domingo
comprou papel de carta, caneta compacta preta, como ele gosta, para escrever
para ela.
Se sentiu tão bem. Tudo
que sabia dela é que ela joga sinuca, pois essa era a mesa da sua cozinha e
também a cama, sabe que ela é leve e desliza carinhos pela pele.
Ele falou pouco, como
de costume, afinal era só uma desconhecida e talvez, pensa agora, sua carta nunca
encontre endereço.
O fato, pensava, é que
há sorrisos por aí, para limpar o olhar,para livrar o corpo da roupa arrumada.E
por instantes brilhantes,entender que a função nobre do corpo é dança, carinho;
sagrado e rotineiro como nos relacionamentos longos.
Serenos e dionisíacos,
das paixões fulminantes e tempestuosas, ou efêmeras e felizes nos encontros do
acaso, numa manhã laranja.
Ela lhe disse que
gosta de ler artigos de ufologia. A moça tem uma cara bonita e iluminada.
Ele viu frases em
francês escritas com caneta permanente na porta do banheiro.
Não trocaram
telefones, só sorrisos e abraços.
Ele reparou nas frases
Nietzscheanas nas coxas dela, nunca vira antes Nietzsche tatuado em coxas tão
bonitas.
Naquela madrugada, ela
fumou maconha e disse que o dinheiro corrompe o amor, mas o sexo ainda é livre.
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