Apague
as luzes .
Finalmente você voltou Maria, eu estive tão
cansada todos esses dias. Eu amei tanto você, abrindo a porta, os braços, as
pernas, para viver. O corpo é possível ainda sem você, mas eu quero dizer o
quanto o gosto do seu corpo pode me curar do mal do mundo, sem você dei pra
andar tonta, eu saio com o rosto carregado de cores, com as palavras na
garganta esperando algum desatar de nós.
Um passo falso e eu me lanço pra um bar, um
barco, um voo, um salto de paraquedas, eu sou uma mulher Maria, eu não posso
mentir pra imensidão dos seus olhos, negar que suas mãos me livram do inferno,
me santificam a carne, alimentam, me fazem ver, respirar flor, ficar muda de
tanta alegria. Quase quatro anos e ninguém sabe e nem pergunta de você. Eu
dormi com pessoas incríveis, eu acordei com pessoas horríveis. Eu saí de nossa
casa, porque a pia tinha lembrança de como você cozinhava, a geladeira não
tinha mais seus temperos e eu sentia ainda o peso da sua mão na minha cintura
antes de adormecer.
Agora
você aparece, me tira a roupa e me ama .Nada
aconteceu esses anos? Eu respondo que não, meus olhos são eternamente seus,
minhas mãos são cúmplices do seu prazer, da sua rota, eu sou seu continuum ,
seu sim em afeto, eu colecionei todos esses
anos os poemas que parecem com você....”enlacemos
as mãos”. Eu já me inscrevi no curso de francês, quero te escrever cartas
novamente, te acordar com Norah Jones só pra gente continuar na cama, eu vou
aprender umas músicas da Madona pra você ficar feliz. Eu fiz uns desenhos de uma mesa que eu quero
fazer pra gente, pra gente jantar, beber e fazer amor. Vou comprar uma mesa de
sinuca pra aprender a jogar e espalhar uns livros em cima, eu leio um conto e você
faz um arroz, eu gosto do seu arroz.
Nessa
terça fria você invade meu quarto com suas cores escuras e tira a roupa
enquanto sorri e eu fico achando que
somos deus. Como você consegue tirar de mim o peso do mundo, aquecer o frio de mil noites estúpidas sem
você? Eu não a interrogo, eu só quero seu corpo, assim como você também só se
sabe em mim, porque o tempo é um senhor me explicando o quanto eu te preciso, o
tempo é meu amigo, o Rilke é meu amigo, eu lhe fiz poesias Maria, eu quero
ficar velha deitando no seu corpo, eu posso até transar outros sentidos, você
também, o que é sacro é nosso pão, nosso fermento, nosso amor de noites
inteiras santificando nossa carne, nos fazendo flor, mel, leite, sangue, letra,
língua. Não há estação que mude, nada que me tira você , porque eu não deixo,
te mantenho com sangue, com meus verbos mais densos, minha sintaxe mais natural,
minha força sutil e meus olhos, sobretudo meus olhos, são internamente,
internamente ( esse ciclo) uma dúvida, uma dívida diante do mundo, deite comigo Maria, eu te direi mais uma vez quem sou. Meu
corpo também é seu e você sabe tão bem quanto eu. Deixemos o mundo, em paz com
a vida, com vida ainda.
Comungar seu corpo, marcar você na minha pele, jogar as tintas sobre as
incertezas do mundo, sair do limbo, ser sexo, ser imensa, santa, saias,
vestidos : enfim transbordar, nossas
cores juntas de novo, vamos pegar mochilas com nossos sonhos mais antigos, eu
te dou minha mão e meu sim, você já pode me matar, vai ser doce, como um dia você prometeu.
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