quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Por que como discurso gostaria de anunciar o fim dos bons modos. Para que todos os palavrões não mais se afugentem em sorrisos cinematográficos. Que todo fantasia ganhe uma avenida, e que ela esteja vazia. Para que todo cansaço da primeira vista transforme-se em tesão de primeira noite. Que toda mentira não se sustente por mais de dois alhares. O fim anunciado das equações de bares, a falência prevista do "moderno" enquanto ceticismo barato.
O grande final, finalmente , do estado de contrato. Que despida dos bons modos a ternura dance livre no corpo.
O calor, o caos, a casa e os calos oferecidos em ação de escambo da dor, porque somadas nossas faltas seremos tão leves que explodiríamos, seríamos estrelas ou bombas.
O carro , a pia, o cachorro, a cachaça e a caneta, palavras, pregos em minha mão...eterno lapidar de vida, coágulos de mel, gozo contemplativamente a formação que minhas retinas pensam ser . A vida é alheia, mas há mãos, as mãos oferecem tapas, oferendas ao meu estômago. Ofício dos alheios.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

ENCONTRO, ENCANTO, EM CANTOS.
Era só um pouco de afeto em meio ao caos solitário que a cercava. Não havia espaço para a contemplação, para as frases imprevistas e únicas. No primeiro encontro só cabem clichês de pensamento pós- modernos de ilusões fundas das cavernas Nietzscheanas . A fotografia antiga, aquela da conclusão do ensino fundamental, que atrás de você aparece a bandeira do Brasil?, então, ela não diz mais nada sobre você. Você não tem identidade nenhuma e no fundo isso traz uma desespero calmo e frio. Fala de rituais ocidentais, de criações circundantes, como se isso lhe fosse familiar , talvez mais pelo caos do que pela beleza, perdeu a noção de beleza porque desde que conheceu a dor toda beleza é um punhal brilhante na carne anônima de qualquer personagem desconhecido e o que você diz não tem consistência, nem a tal densidade que lhe atrai em qualquer forma de criação e ser. Essa menina caminha para o infinito como quem caminha para casa. . Tem sapatos gastos, mochila pesada e pensamento cru, assim, de qualquer coisa, não sabe mais temperar idéias. A sintaxe é fraca, tesão morre se lhes impõem jogos burocráticos de prazer. É descrente a menina. Como se a vida nascendo lhe espantasse tanto que só lhe restasse o olhar fixo e vago mudando de cor que nem seus olhos no outono.
A outra do outro lado era um mistério impossível de se alcançar, um vulto que o olhar acompanhou querendo saber quem é. Uma nuca que excitava a menina e um conversa possível aconteceu. A moça em questão carregava nos olhos e nos outros sentidos o espanto da novidade por assim “ser” ela , viajava em abismos bonitos e impossíveis, com a ousadia de quem desconhece qualquer forma de outro que lhes apresente , criou um signo de força e prazer, liberdades impossíveis de ser, se houvesse antes um entendimento programado e seco...Não era desejável uma explicação possível.
O café ficou em 15º plano. O pasmo era o de ver e ouvir uma necessidade de palavras ocas, aquelas que ecoam pensamentos possíveis alimentando verdades sãs , enquanto o relógio trabalhava, um homem carregava a vida na cabeça, uma mulher carregava os sonhos numa imagem, um homem corrompia o corpo de uma mulher, uma mulher acabava com os sonho de homem, alguém morria, alguém gozava, alguém sangrava e a menina desejava com uma calma irritante , por acréscimos de ficção, aquela outra,possibilidade de paladar, de tato, tetas, tintas e tantas outras coisas não poéticas e táteis e lindas,,enquanto o café esfriava....mas tudo era regado à água, café e pão de queijo, chuva de fim de dia, trânsito de cidade urbana, pressa de rota e de rotina e vontade de mais. Mas ( conjunção ganha de advérbio?) a sintaxe que se dane, ela procurava signo nas suas nuances, ela ainda procura e desencontra e encanta-se ,ela é doida e dada à outra, que ,de repente, nem existe!!!! É outra, sempre, outra. Bonita e distante.Desejável.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

São Paulo, dia qualquer indo embora junto comigo.

Qual o veneno que acalma a dor dos ônibus cheios, das casas pequenas, do espaço que é sempre dos outros, aquela dor vazia que nem melodia de bossa-nova que não se justifica de tão desnecessária, aquele gole de cachaça descendo seco ...ainda seu espanto e desespero de ainda ver uma beleza inexplicavelmente inédita em rostos que nunca te dirão nada porque não se fazem possíveis e já fluíram lágrimas mais fundas que a distância entre as almas, as grandes misérias das pessoas que eram fortes e lindas, o luxo no meio do lixo, o lixo sentando nas cadeiras santas, suas retinas querendo te explicar o mundo, teu pão já sem café , tua coberta rasgando, seus becos maiores que a lua cheia, seus esmaltes secos e seu batom borrado, seu vestido sujo em que seu corpo mente, seus olhar gozando o espanto , o crime, a injustiça, o calor, o corpo e mais :o teu sangue ralo e sacro cheio de pulsação para A VIDA, se há ainda...Qual o veneno que acalma esse sorriso fácil por um olhar demorado , essa falta de verbo, esse pão de ver, esse não de andar para o sempre, essa negação quase louca das idéias comuns, esse cheiro de nada querendo corpo, comer o mundo e cuspir , cuspir logo em seguida porque tudo é muito adstringente e não sabe ainda engolir, as mãos em eterna fuga do seu corpo, o laço sempre impossível de seus sentidos, a mesa sempre vazia de flores, a saudade dos anos de menina, o erotismo impossível dos anos de mulher, a muralha de gente que atravessa em noites absurdas, as pessoas que nunca vai ver, todas as poesias impossíveis de se gozar, os lances sempre refeitos como uma maturidade que te ofende, numa previsão que te brocha...e ainda qual o veneno que acalma essas luas, essas, essa sensibilidade quase arrogante de não ser só instinto , sangue e carne?

Saudades fundas de quem um dia não vou ser, sem mais.

O Olhar já coordenava, antes.