quarta-feira, 13 de agosto de 2014

A generosidade do mundo.

Porque depois de dez anos aqui, já estranho menos a cidade, o susto é todo dia, porque por aqui todo dia vejo um jeito novo de vestir, de pagar as contas,de dar às mãos a um outro.Ganhei tanto,não imóveis, grana,estabilidade, rendimentos, e esse imperativo consumista que ergue bandeiras e sustenta dores crônicas.Não,a vida me deu gente,pessoas que brilham meus olhos,porque são anjos de luz que me querem bem e que ganham meu amor em palavras e companhia.
Não escolhi uma profissão confortável,escolhi o que está no olho do furacão das mudanças, falo de preposição,prostituição,feminismo, argumentação."Sou professora, todo dia repito essa interrogação "sou professora?"às vezes rindo,outras não. 
Abro livros e traço planos,não sei pensar a longo prazo e se resolvo  estudar é pela possibilidade de descoberta em cada aula, o mundo está para o tumulto, está para um angu de mal entendimento,eu quero mais calma.Quero ir mais vezes aos parques,aos teatros, talvez até o final do ano eu releia Saramago e descubra outro livro de poesia muito bom e ainda desconhecido, preciso comprar cachaça de gengibre e aprender receitas de tortas salgadas.
Eu não estou com pressa para as coisas que chegarão generosamente se tiverem que chegar,meu presente é mágico ,é milagre de corpo em atrito com o mundo, meu corpo com todos os meus sentidos sãos goza meu tempo, minha saliva, meu suor,minha menstruação, minhas unhas e meus dentes estão generosa e abusadamente gozando o meu presente, minhas mãos velhas esperam minhas rugas que já aparecem e minhas pintinhas vermelhas (iguais as da minha mãe) me avisam dos anos.
Envelhecer é muito gostoso. Eu não tenho medo do tempo, eu sou tempo estampado em sentidos e pensamentos.

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