quarta-feira, 22 de setembro de 2010

A estética da chuva

Difícil em dia de chuva perceber a chuva de fato. Há o transito, o calor, a fome e a angústia da espera por descanso enfim. Mas se há um istante de calma há o som da chuva, o cheiro e uma energia pra apaziguar o cansaço.
Através da janela do ônibus, parado há mais de vinte minutos no mesmo farol, vejo um rapaz que segue rápido em direção à faixa de pedestres, parece bravo, semblante fechado, uma moça corre parece segui-lo, ela segura sua mão, o faz parar, olham-se com raiva, carinho, tesão. O olhar dura poucos segundos. Beijam-se sob os pingos e raios da cidade. Imprevisível.
Catarse. O que se quer em dia de chuva? água quente, sopa. Não. Pingos gelados caindo no corpo quente exaustos da rotina fazem bem. Por isso saí do ônibus, embora antes do ponto da minha casa. A chuva em mim alegrou o fim de um dia pesado.
Um pão de mel e uma xícara de café amargo enquanto leio uma poesia, fico assim em estado comtemplativo. É bom. Minha liberdade dói em algum lugar e fico assim a comtemplar as coisas: Formigas, luar, chuva, a memória de meu travesseiro.
Tento me perceber em meus perfumes, músicas, meias e esmaltes. Chego a conclusão nenhuma mas vale o exercício da comtemplação.Cuido de mim quando consigo traçar uma coerencia entre minhas ações e reações nesse chato emaranhado social. Gosto mesmo é de ficar percebendo o gosto que tem tudo: A manga, a língua, o lábio, o álcool.
Já tive muitos sonhos e já borrei muito meu lápis preto. Hoje penso "é bobagem" no entanto todos que dizem "é bobagem" sabem que foram bobagens doloridas; Enfim, nenhum sonho é tão bom quanto a realidade que se tem, pois ela se tem ainda. As coisas são estranhamente boas, incrivelmente há gosto em tudo. Sabor de páginas, cheiro de pele despida, o mormaço nos olhos líquidos de um desejo comum.
A comunhão, há comunhão.
É assim que percebo a estética da chuva, uma sutileza óbvia mas nem sempre fácil, pois carece de comtemplação.

Um comentário:

  1. "É assim que percebo a estética da chuva, uma sutileza óbvia mas nem sempre fácil, pois carece de comtemplação."

    Mais uma vez por aqui!

    Abraço Dilma Querida!

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