Você sabe que dezembro não é o meu mês preferido, eu sei que também não é o seu. Embora eu adore aquelas plantas de folhas vermelhas que enfeitam as árvores de algumas avenidas da cidade, no mais dezembro contabiliza afetos de sangue e tempo e isso é meio ridículo, há muitas coisas com as quais eu não sei lidar, dezembro talvez seja uma delas. Estar com você é sobretudo esquecer de datas, gosto de nossos silêncios juntos, de nossas palavras também. Que esse ano a intensidade de nosso querer seja bonita como é, porque o nosso encontro de sorriso é um presente nessa passagem nossa aqui nesse espaço e tempo. Eu gosto do itinerário de ir até sua casa e de sua casa também, gosto do verde que me recebe antes de você, é sempre bonito. Passageiros cansados e suados de suas rotinas desembarcam abrupta e apressadamente nos pontos de ônibus, enquanto eu vejo o itinerário que te leva à escola, as ladeiras que foram estrada de seus primeiros passos longe de casa, a rua do colégio em que você viveu seus primeiros amores, a loja de doces perto da sua casa, as ruas que foram crescendo junto com você. Gosto também de observar seu altar literário, os livros que te fazem a cabeça, seus mil cremes para cabelo, sua pasta de dente que sempre está longe do lavabo, os chinelos brancos, a roupa de dormir e a escova de dente que você me empresta, e também a brisa que entra pela janela do seu quarto pela manhã. Gosto de atenta e silenciosamente ver todas as coisas que compõem você, dentro de sua casa isso é evidente,porque tudo é decisão sua: o lugar onde fica a canela, o açúcar, a farinha sempre longe, porque não é sempre que se come farinha na sua casa, salvo exceções em que eu apareça,seus inúmeros potes plástico que guardam temperos que transformas qualquer pedaço de frango na melhor coisa do mundo, seus tons azuis espalhados pela pele,capa de livro, colares, travesseiros, seu quadro bonito lembrando a cidade que te encantou pelo calor e luz.
Janeiro começou com um sol daqueles das praias cearenses, começou com a sua temperatura preferida, eu voltei para casa hoje celebrando silenciosamente a natureza do nosso corpo, o encantamento do nosso encontro, que tenhamos sempre e sempre saúde no corpo e na palavra para reparar, mesmo no meio do caos (e caos há e muito ao redor) que temos uma à outra e que nossa vontade converge numa poesia de sol, como fevereiro, como sua festa pagã que põe o mundo em festa.
Te Tudo,Flor.