São Tomé das Letras foi nossa viagem mais dengosa. Flor é uma luz alegre e um incêndio que o corpo quer. Os nossos corpos se entendem, se ajeitam ,se desejam, meu corpo por encanto do dela caiu na sesta, adormeci com a mão morna de seu tato macio, todas as pedras da cidade brilhavam , de certo que era para os olhos de Flor, quem ficaria indiferente àquele brilho em Flor? Pelos bares e lojinhas multiplicavam-se cores e saudações, os pássaros em rebuliço faziam canto pra Flor. Se eu soubesse também cantaria , também desabrochava em cores só para seu bem.
Nossas mãos passearam juntas e não sentiram medo do ódio, tão alheio à nossa essência. Vimos juntas um novo tom de verde, um novo jeito de desaguar. O silêncio das tarde, naquele canto de mundo em cima de um pedra, era cortado pela nossa leitura, eu escrevi de um jeito inédito um texto que Flor me deu, as leituras foram ardentes e dengosas. Seus olhos amoleciam e cresciam como crescem as flores miúdas e cheias de cor. No silêncio da rua nosso silêncio conversava a cumplicidade do querer, prolongava-se pelas tardes molhadas os nossos passos juntos, prolongava-se o nosso espreguiçar, a nossa voz em uníssono de uma paz descansada de deveres. Os doces de São Tomé eram a afetividade dissolvida em leite e açúcar , a cachaça curtida nos sabores de magos e duendes marcavam de noz moscada e cravo a nossa língua.
O Vale das Borboletas esperava em água e céu a chegada de Flor, e até o sol a procurou entre os galhos altos que escondiam as pedras. Flor, dada à natureza, ganhou luz e água das cachoeiras de Minas. O doce de leite , o cheiro de mato, o visgo do verde se jogava aos seus pés, eu me perdia de ver sua presença enchendo o mundo de luz, eu me emocionava com meus olhos cheios de sua imagem, transbordando nas bordas a doçura de água de cachoeira, nosso calor batizado nas águas doces e brutas, na força das pedras, nossa fita do Senhor do Bonfim batizada primeira nas águas do Rio Vermelho agora também da luz das pedras é conhecida.
Sua alegria anuncia o carnaval, inaugura todo dia um prazer que só a intimidade dos corpos sabe desnudar. A intimidade dos corpos é esse amolecimento dos olhos , esse despertar pra um mundo tão íntimo que a palavra é ainda saliva, quando esmorecendo um músculo uma dança se inicia, quando o nosso quando desabrocha junto, rente.