Quem leu Memorial do Convento certamente reconhece a fundura desse chamamento. Invocando a vontade que sustenta as estrelas, Saramago faz rebuliço no peito de quem se entrega à leitura além do símbolo, quem também pinga seu sangue fazendo cruz no peito de Sete-Sóis.
O que se quer tanto com tanto conto? É tanto papel para preencher que há quem estando nu se amedronte diante do silêncio potente que o corpo é. Os olhos dela de manhã são dois infinitos de fruta pequena e doce, o corpo é a força onde suas tempestades todas se assentam, quando meus dedos passaram sobre e entre seus cabelos, agora curtos, eu vi e quis que minha mão,velha, sinta a mudança de seus cabelos, de corte, de cor, tingidos pelo tempo, pelas longas horas estudando apaixonadamente essas cismas que a faz precisa ,afiada e dona da linguagem, com batons e lenços e anéis e colares. A cidade fica pequena perto da sede de sereia que faz e fisga canto.
A cidade toda resplandece nesse outono inconstante, ela ergue, com um sorriso de sono, uma bandeira à dança dos corpos que se dão bom dias fundos, como uma raiz revirada depois da chuva, como o cheiro de mato quando caem árvores na sua rua.
Celebrada a linguagem, eu invoco silêncios para tecer uma cortina de búzios, conchas, um lençol com a vibração das cores dos corais, uma rede tecida com as histórias de ilhas desconhecidas, eu arrasto uma tarrafa de peixes prateados que são nossos retratos pelas ilhas que desconhecíamos, eu chamo Noel,Cartola e Pixinguinha , eu convoco tambores para chamar os olhos dela para mim.
Eu fabrico sete-sóis e uma nuvem que faz voar .