Eu não sei como é ter um filho, eu sei que dói ver homens vestidos de preto matando meninos "pretos de tão pobres". Eu sei que nas conversas nesse dia de sexta que feriadaram um assassinato e comungam a esperança na ressurreição , eu sei que ouvi de gente que tem dinheiro,tem o de comer e o onde morar ouvi planos para investir e fazer mais dinheiro e lamentaram a morte do filho do governador. De sangue ninguém falou, um menino morreu no Rio, um menino sempre morre na periferia, onde a polícia tão aclamada pelo povo quer número de presos de mortos e de homens pretos na estatística para fazer a segurança dos brancos que querem ganhar dinheiro.
Como foi que essa mãe aleijada por balas do estado comeu comida nessa sexta feira santa? Um menino morto desse jeito cruel e perverso trouxe pesar nesse dia em que a morte faz feriado.
Homens brancos e de oratória bíblica estão querendo mais números e matarão antes do corpo as almas dos meninos aprisionados aos dezesseis.
A limpeza nas mãos do que fazem as escolhas não escondeu de Blimunda _ olhos saramaguianos de ver_ os vermes estourando em pus dentro de tantos homens.
Como você que não sente mais pesar chegou a esse lugar de anestesia?Não te dói que um menino morra e que você pague a essa polícia para aleijar uma família? Por que teu nariz só sente cheiro de dinheiro?Você não vê o pus nos homens, o sangue de tantos meninos?
Hoje há pesar e dor pela morte de meninos e pela falta de almas sensíveis, há pesar pelos que encheram o bucho de comida, os sentidos de vinho e ordenaram que mais gente morra.