segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

tudo é.

            Eu te tudo é substantivo e verbo que não cabe na sintaxe ordinária, não é o tudo ou nada absolutista e cartesiano das ciências e das religiões. É antes, é parte privada da nossa fala, tem a textura da nossa pele junta, tem a combustão dos nossos perfumes, tudo é nosso encontro,é meu quarto com sua presença do travesseiro à esteira, tudo é seus colares fazendo companhia aos meus brincos.Tudo são meus olhos inundados de seu rosto, transbordando tua cara nas minhas pupilas aumentadas para caber teus olhos miúdos e indecifráveis. Meu tudo é derramado em você em suor, saliva, gozo,comida, tudo é a espera da minha cintura pelos teus abraços fortes, é a escolha do esmalte, da calcinha, da salada, do bolo, da bebida, tudo é o sim do verbo.
           Não sei dos verbos nem dos pronomes conjugais, comungais nem se é de substância ou de verbo que o sangue vira filho.
          Do tudo dito tantas vezes com olhos repousados no seu corpo antes de seus olhos se abrirem dengosos e famintos, eu sei. Do tudo dito quebrando o silêncio de quando você chora,eu sei. Do tudo dito quando você é só luz, luz,luz e parece flutuar, eu sei.
         Do tudo cheio de urgência de quando você não está, desse eu sei mais ainda. Quando você não está tudo significa gritante aos meus ouvidos e vermelho aos meus olhos. Um silêncio de saudade toma minha boca e eu te tudo em cartas, mensagens,espera. Ajeito seus colares, descubro um casaco seu no meu cabide, leio guardanapo poetizada daquele dia de jazz na República, aprendo novas receitas, compro saias pensando nas suas mãos,leio poemas e você aparece dentro deles, faço café, gelatina, panquecas, procuro passagens, roteiros, procuro tuas mãos, procuro em todos os roteiros os teus sins. Eu procuro tua força estampada à agulha e tinta, e encontro, encontro quando você deixa, amolecida, meu silêncio tomar seu corpo em um abraço que quer a  comunhão dos olhos que juntos constroem um mundo. Um mundo de transbordamento onde, abandonada a semântica ordinária que a vaidade alimenta, os corpos querem um incêndio sem ruínas nem feridos.
        Eu te tudo é a parte mais bonita, mais dada, mais generosa, mais larga mais fica comigo,mais você vem hoje? Mais você gostou desse esmalte,mais quando você está eu fico tonta de tanto te querer, mais você fica linda gozando, mais viaja comigo pra Paranapiacaba?Mais viaja comigo para Paraty? Mais você vai comigo? Eu tô com medo, Mais eu quero namorar você.
       Eu te tudo é minha mão procurando a sua mesmo com medo da homofobia das cidades distantes, eu te tudo é a vontade de te ver realizando sonhos, é o desejo de voltar para o Hotel depois daquele sol nos abençoando em Itapuã, Eu te tudo também tem medo de você partir.
         Eu te tudo,Flor.

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