quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Último Reclame - por Adilma Secundo Alencar.

Perdoe-me, será meu último reclame. Onde mesmo você escondeu meu riso solto? Diga-me. Eu comprei pera e porque você não está? Eu não gosto de peras, você ao menos deveria ter levado junto com suas meias vermelhas esse cheiro de maracujá que invadiu a tarde, eu não vou mais resmungar, sua ausência me deu dez anos , eu fiquei feia. Eu evito as bancas com flores porque já não há quem cuide delas. Desisti de ter uma menina, você sabe que eu amo crianças, você sabe que dói ver tudo caindo, eu não sei chorar no ombro de amigo,ando devagar porque minha pressa já não tem razão. Quando você soltou minhas mãos eu comi estômagos, cabeças, vísceras, olhos, peitos, falos, fígado, eu continuo com fome de borboletas. Eu tenho uma escrivaninha azul , eu me sento no final da tarde e choro ter perdido seu amor e seu endereço, porque descobri uma autora pernambucana que tece versos com gosto de mangaba, eu ainda escrevo cartas bonitas e guardo minha saudade em gavetas com cadeado, não conto pra ninguém desse amor que é seu. A loucura, o desespero e a melancolia não cabem na minha rotina. Meus reclames são de desespero. Quando você vai me devolver à primavera? 
Devolva meu riso e leve sua escova de dentes.

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