terça-feira, 11 de setembro de 2012


Eu comprei um espelho com moldura envelhecida, ele combina tanto com as roupas que eu sonho paro seu corpo que eu ainda não conheço, ontem eu pintei meu cabelo de um tom mais escuro, também cortei um pouco, será que você prefere longos ou curtos? Fiz um bolo de fubá e arrumei a cama. O vento varreu meu quintal, senti que levou velhos fantasmas, fiz uma festa de perfumes e cores. A pia está suja de novo, reaprendi a conviver com o vão da sala.  Comprei papel de carta, mas eu não sei seu endereço, você gosta de e-mail? Ou posso escrever cartas?
Eu decorei um poema do Drummond, aprendi a bordar, porque você de certo vai querer que eu lhe faça um suéter cinza, ou sei lá, alguma coisa.
Eu vou gostar de sua voz, tomara que seja rouca, como voz de fumantes quando bebem vodca com gelo, talvez você goste de sol nascendo em padarias da cidade, ou de dormir quando o mundo acorda .Que você tenha silêncio.
Vou levar você aos lugares que eu gosto de ver, há lugares estratégicos para ver as pessoas, tomara que você goste de pessoas, porque eu amo. Os estranhos que cruzam minha rota, que pisam no meu pé. Eu amo querendo matá-los, beijá-los, matá-los, porque eu os vejo. Você precisa ter um coração: sangrando, morrendo, azulando, gritando. Há também de ter pulso, esse antes no sangue que no verbo, o discurso de arabesco pode mentir sua alma limpa. Sua alma? Nua alma. Eu quero ter seus poros minando alma, pingando alma, cavando carne com unha e adaga. Sua força será outra, ela vai explodir diante de meu olhar amarelo e terno.  
Talvez você tenha pressa, tomara que não, pois eu não nego minha preguiça para lhe dizer, lhe adivinhar, porque meu mundo não precisa de palavras, ele precisa de tempo e espaço. Nosso silencio vai explicar se o futuro dura essa madrugada. Dura.