Uma mulher cercada de borboletas fazia bolas de sabão. O calor e o som
dos trompetes amoleciam seu corpo que dançava nas mãos dos foliões. Ela usava
faixa verde nos cabelos, os olhos carregados de rímel preto e o sorriso de quem
viu uma deusa nua. Os lábios molhados na lata de cerveja suada. Ela parecia
beber a lua, passos cambaleantes, braços longos, soltos, negros, ela roubou as
estrelas e prendeu minha boca numa curva do seu corpo.
Quatro passos de samba. Caminhávamos entre carros, entre feridos, corpos
abandonados na República, meninas vendendo sexo no Arouche, homens gozando a
escuridão dos terrenos baldios. Bares, sinucas, cigarros, lixo na rua sem
saída.
Longos beijos de vodca e cerveja e a luz da lua aos poucos fazia dela
uma outra cor, um brilho de fogo, qualquer cor que queimasse minha pele e me
fizesse perder o prumo, era assim: cor, maciez e calma. O som, devagar,
perdia-se nas ruas cheias de gente, de promessas, de ritmos. Sua voz era canto ou
grito, imperava sem verbos nos meus poros. O susto na noite imprevista, depois
dos papéis, das estações, entre um metrô e outro: o susto: sustento do lúdico. A
calma entre suas pulseiras de santo, seu cigarro, a fumaça no meu cabelo. O
gosto da sua língua. Sua casa: varanda com suas flores, tapete dos contos
indianos, luz apagada, almofadas de cores escuras. A banda seguiu de volta à Praça
Roosevelt.
Eu segui seus sinais!
Místico e simples.