terça-feira, 15 de novembro de 2016

Um útero não é uma boa metonímia

Um corpo, um útero não precisa carregar um filho. Um útero e uma mulher em punhos. Acordada às 6:00 da manhã, corpo já vestido com a roupa de trabalhar, o corpo caminha lúcido para a lida da vida reta, atravessa uma porta,dois portões, duas catracas, de novo dois portões e uma porta, assina o ponto, a caneta bic azul soma mais um dia num papel sujo que não diz da dona do corpo. O corpo que caminha lúcido quer antes a dança que o passo adestrado, o corpo molhado entre as pernas espera a chegada da praia, chegado ao mar, o corpo é só radiância. Aos encontros das conversas das mulheres que fiam cabelos de filhas e rezam a ladainha dos maridos, esse corpo silencia e respeita, respeita com o silêncio e a solidariedade de quem também é corpo. A dança de cada corpo quando harmônica com cada grito sabe da diferença de quem habita cada espaço de carne. Os punhos de uma mulher não estão no útero, estão no fiar intenso de suas próprias histórias, no sangue de tanta gente que morreu pra dizer que a mulher pode, a mulher pode, a mulher fode, a mulher quer foder. O corpo da mulher não é um metafísica pagã criada por uma palavra masculina, nosso sangue escorre, como nosso gozo escorre, uma mulher tem tesão , uma mulher tem desejo, uma mulher pode tudo,um mulher pode querer ser toda,todinha de outra mulher.